domingo, maio 20, 2007

Schumann revisto por Mahler

As quatro sinfonias de Robert Schumann surgiram, espaçadas, nos seus últimos 15 anos de vida, e numa altura em que eram já reconhecidas as suas canções e peças para piano. A primeira sinfonia surgiu em 1841, depois de um ano exclusivamente dedicado à composição de canções (o não do seu casamento com Clara Wieck). Foi um processo quase fulminante, os primeiros esboços surgidos em Janeiro, a sinfonia dada como concluída em Maio. Uma segunda, logo começada, estava pronta para o aniversário de Clara, em Setembro. Foi publicamente apresentada em Leipzig, num momento que o compositor viveu como de grande desilusão. As partituras foram recolhidas e a sinfonia saiu de cena durante dez anos, apresentada de novo em 1851, consideravelmente reescrita. Nessa altura, a obra que começara a nascer como a sua segunda sinfonia acabou por ser a quarta, uma segunda e uma terceira tendo sido estreadas, respectivamente em 1946 e 1850, ambas reflectindo já sinais de uma depressão que assolou essa etapa da vida do compositor.

A curta obra sinfónica de Schumann (na imagem), com evidentes raízes em Beethoven, foram alvo da atenção de Gustav Mahler. Era um grande admirador destas obras, mas só depois de nomeado maestro da Filarmónica de Viena (em 1898), teve hipótese de as dirigir. A primeira das quatro sinfonias a ser por si apresentada foi a primeira, em 1899, num programa que incluía ainda um quarteto de cordas de Beethoven com arranjos seus. A quarta seguiu-se em 1900. A segunda e a terceira foram apenas por si dirigidas no final da sua vida, em Nova Iorque, no Carnegie Hall, respectivamente em 1919 e 1911. Para todas estas apresentações, Mahler efectuou arranjos novos, revendo com detalhe pormenores da orquestração original. As suas intervenções foram cautelosas, atentas, deferentes, mas no fim evidentes. São estas as versões que, em disco, o “mahleriano” Riccardo Chailly apresenta agora em disco (edição Decca Classics). À frente da Gewandhauserorchester (que lidera desde 2005), apresenta para já duas das quatro sinfonias - a segunda em Dó maior (op. 61) e a quarta em ré menor (op. 120) – num disco que inclui ainda a abertura de Genoveva (op. 81). Fica claro que Mahler mais não fez que tornar mais claros e evidentes certos pormenores, nunca interferindo a sua personalidade enquanto grande sinfonista numa obra que se limitou a editar com a atenção e devoção crítica de um admirador. Soberba interpretação e direcção, num dos discos obrigatórios do ano!