segunda-feira, maio 21, 2007

Postal de Cannes, 20 de Maio de 2007

A lista de cineastas que assinam os peque-nos episódios de Chacun son Cinéma é, de facto, impressionante. De David Cronenberg a Manoel de Oliveira, de Nanni Moretti a Atom Egoyan, de Takeshi Kitano a Walter Salles, mais de três dezenas de autores corresponderam ao convite de Gilles Jacob (presidente do festival) e fizeram curtas, curtíssimas metragens que deviam satisfazer um princípio fundamental: lidar com a sala de cinema e o ecrã ou, mais especificamente, com a prática social do consumo de filmes.
Não valerá a pena sequer tentar resumir a pluralidade das propostas, dos dispositivos, das invenções formais, mesmo se não resisto a reproduzir o titulo do espqntoso episódio de Cronenberg: “At the suicide of the last jew in the world in the last cinema in the world” (acrescentando que é um plano fixo, numa casa de banho, com um único actor que é o próprio Cronenberg).
O que fica é, acima de tudo, uma nostalgia imensa pelas salas de cinema — muitas delas sintomaticamente vazias. E também a consciência activa de quem assiste à emergência de novas formas de difusão das imagens, de consequências ainda impossíveis de antecipar (como, por exemplo, a espantosa situação filmada por Wim Wenders: uma projecção, a partir de um DVD, de Black Hawk Down, de Ridley Scott, numa aldeia dda República Democrática do Congo).
Mesmo com três ou quatro episódios menos felizes, Chacun son Cinéma fica como um duplo testemunho: por um lado, uma espécie de requiem paradoxal que nos ajuda a lidar (afinal, de forma surpreendentemente positiva) com o presente do cinema; por outro lado, uma memória latente para ser (re)descoberta daqui a dez, vinte ou trinta anos por quem quiser saber onde estava, e como se questionava, o cinema no ano da graça de 2007, algures numa praia da costa sul de França.