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Decididamente, a "provocação-pela-provocação" já deu o que tinha a dar... Assim se percebe através de
Une Vieille Maitresse, de Catherine Breillat (
Romance), agora num registo de filme de época (?) supostamente provocador e perversamente erotizado. Faz pensar numa telenovela "ousada", em que as cenas de nu não servem para nada, a não ser para mostrar que somos todos muito "descomplexados"... de facto, não somos e o cinema é algo de infinitamente mais complexo. Pelo mesmo caminho vai
L'Age des Tenebres, de Denys Arcand, guardado para o encerramento oficial do festival, mas já mostrado à imprensa: ou como autor canadiano, autor de
O Declinio do Imperio Americano, se limita a copiar as suas próprias variações sobre a "crise-de-meia-idade", cada vez mais enquistado num inglório primarismo formal e temático.
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Muito consistente é o filme que a Fundação Gulbenkian (no âmbito das comemorações do seu 50º aniversário) encomendou a seis realizadores de todo o mundo. Chama-se
O Estado do Mundo, passou na Quinzena dos Realizadores, e reúne curtas-metragens de Chantal Akerman (Bélgica), Apichatpong Weerasethakul (Tailândia), Vicente Ferraz (Brasil), Ayisha Abraham (Índia),Wang Bing (China) e Pedro Costa (Portugal). Cada um deles filmou uma situação que, na sua óptica, reflectisse, precisamente, o estado do mundo em que vivemos. Embora com resultados desiguais, todos encontraram situações fortes, como por exemplo o ambiente noturno de Shangai por Akerman [foto], as memórias da China maoista por Bing, ou ainda essa espécie de prolongamento simbólico e assombrado de
Juventude em Marcha, de Pedro Costa (que esteve em
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Cannes
ha um ano), no episódio intitulado
Tarrafal [foto]. Apesar da sua condição oficial, é um filme que faz (ou fará?) todo o sentido exibir numa sala comercial, sobretudo se em torno dele se souber gerar a atenção que merece. Esperemos que tal aconteça.