Concebida pelo musicólogo italiano Alberto Basso e pela independente parisiense Naïve (que edita, entre outros, Carla Bruni), a Vivaldi Edition é o primeiro mega-projecto discográfico deste século, tendo por objectivo a gravação das 450 obras cujas partituras, manuscritas, estão preservadas na Biblioteca Nazionale de Turim. Estes eram os manuscritos que o próprio Vivaldi tinha em casa à data da sua morte, em 1741, nos quais encontramos a totalidade das suas óperas, centenas de concertos, peças de música sacra e cantatas. Muita música, grande parte dela não ouvida desde o século XVIII. O projecto discográfico deu os primeiros passos em 2000, prevendo-se um ritmo de intenso de edições durante mais de dez anos, segundo um plano que, além dos discos, prevê também a exposição destas obras em concertos e festivais. Cereja sobre o bolo de uma arrojada mas estrategicamente bem concebida operação (que exige bons intérpretes e gravações a cada novo título que prepara), a sua identidade gráfica assegura que todo um esforço monumental comunique a vários públicos, não se esgotando portanto junto dos que já conheciam a obra de Vivaldi. Citando lógicas visuais do mundo da moda, recrutando modelos e fotógrafos a cada nova produção (leia-se, edição), cada capa chega aos escaparates com invulgar potencial de sedução. E a comunicação acontece...
Sucessores de um dos mais aplaudidos e premiados títulos da Vivaldi Edition (a gravação da Griselda, em 2006), o ano viu já dois novos discos nos escaparates. Primeiro, Musica per Mandolino e Liuto, com Rolf Lislevand como solista e Concerti Per Violoncello I, em espantoso conjunto de gravações pelo Giardino Armonico, dirigido por Giovanni Antonini, com o violoncelista Christophe Coin como solista. O disco reúne sete concertos de Vivaldi, entre os quais alguns dos mais antigos que dele se conhecem, datando de 1708 e 1709, supostamente escritos para instrumentistas do Ospedalle de la Pietà, em Veneza, instituição a que esteve ligado profissionalmente até ao fim dos seus dias. Entre os sete concertos escolhidos para este primeiro volume dedicado ao violoncelo contam-se peças que oscilam entre essas primeiras manifestações de escrita para o instrumento e outras, mais tardias, datando de cerca de 1730, por alturas de uma visita do compositor à Europa Central.