O alemão Hendrik Weber está longe de ser um novato, mas o seu alter-ego Pantha du Prince ainda não era, até aqui, um motor de curiosidade por estes lados. This Bliss pode mudar tudo. Não por surguir depois de remisturas para os Depeche Mode, mas por representar um dos mais intrigantes álbuns de música electrónica dos últimos tempos. Intrigante porque concilia mundos distintos sob um tecto comum, encontrando personalidade não na soma das parcelas, mas na forma de as observar, em conjunto, desse plural nascendo uma noção de visão total. Um gosto pela meticulosa construção de eventos mora na raiz de um projecto onde Hendrik tanto dá largas a um franco conhecimento de formas que habitualmente manipula (nomeadamente uma convivência inteligente e dialogante com matrizes techno), como revela gostos em outros domínios, sobretudo a música contemporânea ou o vasto universo indie rock, facção sombria. Terry Riley é homenageado em Moonstruck. As texturas suaves e os silêncios de um Arvo Pärt ou Górecki revelam-se no espantoso Saturn Strobe. E, mais significativas ainda que as afinidades no som, este é um disco que transporta, mesmo sem palavras, uma pulsão narrativa, podendo as imagens de um artwork fundamental servir de eventuais pistas para daí fazer crescer histórias. A descobrir!
Pantha du Prince
Pantha du Prince
“This Bliss”
Dial/Flur
Stefan Betke, Pole para os discos, definiu na segunda metade de 90 um perfil minimalista, geométrico, quase asceta, todavia fundamental na construção de novos caminhos para uma música construída através de ferramentas digitais. Praticante de uma techno sem gordura, despida à essência das estruturas e claramente influenciada pelo dub, Betke moldou, através do projecto Pole, uma linguagem precisa, exacta, estrutural. Depois de uma trilogia de afirmação linguística, completada com um álbum de remisturas em 2001, abriu horizontes. Primeiro rumo ao hip hop, num álbum relativamente falhado (Pole, de 2003). Agora, em Steingarten, mostra como pode dar nova vida a princípios e ideias que investigo nesses “ensaios” editados entre 1998 e 2000, apresentando aquele que, até agora, é o mais entusiasmante dos seus discos. A recente descoberta do noise (há quem graceje, dizendo que deve ter ouvido o clássico Evol, dos Sonic Youth, quando pensava este novo disco), do prazer melodista, de uma noção de paisagismo possível além das geometrias essenciais que definem o espaço, faz deste álbum um mundo de acontecimentos que conciliam o prazer da descoberta com uma noção de conforto minimalista para clientes habituais do género. A capa, que nos mostra o sumptuoso palácio Schloss Neuschwanstein, de Luís II da Baviera, indicia por si só uma revolução de intenções, que o som do álbum confirma em pleno. Não se espere, aqui, o catácter narrativo das sugestões de This Bliss de Pantha du Prince. Antes uma intenção estética apelativa, ciente de um espaço, ornamentado, meticuloso, intrigante, que sabe bem descobrir (o que não quer dizer que tenha, obrigatoriamente, uma história para contar).
Pole "Steingarten"
~Scape/Flur
4/5
Para ouvir: MySpace
Para ouvir: MySpace
E agora um disco-mistério... Somando e ordenando os dados que se recolhem online, corre que, em 1978, o duo francês Black Devil (ou seja, Bernard Fevre e um tal Jacky Giordano, de quem nunca ninguém viu o rosto) supostamente editou o EP Disco Club. Tido como obra perdida durante mais de 20 anos, ressurgiu reeditado em 2004 pela etiqueta Rephlex, de Aphex Twin, revelando uma colecção assombrosa de seis temas do melhor electro disco, aparentado ao que então fazia Giorgio Moroder e, pouco depois, gravaria Patrick Cowley. Um dos temas, diz-se, terá sido samplado pelos Chemical Brothers em Got Glint. Mas, sabido o gosto de Aphex Twin pela "ficção", logo houve quem levantasse a hipótese de Disco Club, dada a actualidade de um som feito de teclados e programações novamente em voga, ser, na verdade, uma parceria recente (do subgénero "partida") de Richard James e Luke Vibert... Dois anos depois, eis que surge 28 After, supostamente uma sequela de Disco Club, da qual a capa apenas revela uma pista, apontando a autoria das músicas ao francês Bernard Fevre... Espantosa colecção de canções electro disco, o álbum não guarda nas suas entrelinhas quaisquer marcas temporais. Serão estas gravações de 1978? Ou actuais? 28 After afirma-se, acima desta história de mistério (para já sem resposta), como mais uma importante afirmação de vitalidade de um género que, quase 30 anos depois, ainda motiva músicos e cativa públicos (veja-se o exemplo do assombroso It's A Feedelity Afair, de Lindstrom, editado em 2006, para deitar eventuais dúvidas por terra). Antigo ou actual, ficção ou realidade, o certo é que 28 After não deixa de traduzir marcas de contemporaneidade, inscrevendo-se numa família que redescobre, com sentido de oportunidade, marcas clássicas que estão na raiz do italo disco, do acid house, do hi-nrg. Clássico perdido, manobra de fantasia ou, apenas, um "novo" disco, um saboroso convite para dançar em 2007.
Black Devil Disco Club
“28 After”
Lo Recordings /Ananana
4/5
Para ouvir: MySpace
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Na música, Lelsie Feist já experimentou todos os pontos cardeais possíveis, do rock intenso dos Placebo (os seus, não os de Brian Molko) à placidez acústica das canções qie criou, em casa, quando o médico lhe disse que, depois de crise vocal, não voltaria a cantar. Isto sem esquecer as parecrias com Peaches ou os Kings of Convenience... Há três anos, o bem sucedido (e justificadamente aclamado) Let It Die deu provas de um talento na composição que fez da jovem canadiana mais que uma bela voz. Agora, porém, quando mais dela se esperava, menos acontece. Em regime burguês, instalada em castelo chique, contando com colaboradores de nomeada (como Jamie Lidell, Mocky ou Eric Glambek Boe, este último o rapaz discreto dos Kings Of Convenience), gravou The Reminder em apenas duas semanas. O álbum abre com quatro temas absolutamente arrebatadores, sugerindo um promissor alargamento de horizontes e diversidade de caminhos e texturas. Porém, a coisa depois acaba morna, mais do mesmo. Em regime satisfatório, mas blasé...
Feist
“The Reminder”
Polydor/Universal
2/5
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O mais antigo e regular dos colaboradores de Nick Cave só arranjou tempo (ou vontade) para gravar em nome próprio ao fim de quase 20 anos de discos. Estreou-se com dois álbuns de versões de Serge Gainsbourg em 1995 e 97 e, de novo fez-se silêncio, interrompido apenas em 2005, com nova gravação a solo, a primeira contando com temas da sua autoria. Two Of Diamonds é, agora, o sucessor desse álbum de há dois anos, e não mostra sinais de fuga ao que já nos mostrou. Placidez inteligente para arranjos ora simples, ora sumptuosos, numa colecção de canções onde não só encontramos novas expressões da sua criatividade autoral, como renovada vontade em reinterpretar temas de terceiros. E, convenhamos, é aqui que novamente mais conquista. A versão de Here I Am, de Emmylou Harris é puro espanto. E, igualmente caticvantes, são as leituras de Everything Is Fixed (de David McComb) ou Don’t Want You On My Mind (de Bill Withers), esta última a revelar as pistas de reinvenção baladeira dos blues que Mick Harvey ajudou a adaptar para o som de alguns dos mais recentes álbuns de Nick Cave com os Bad Seeds.
Mick Harvey
“Two Of Diamonds”
Mute Records / EMI Music Portugal
3/5
Para ouvir: MySpace
Também esta semana:
Bob Dylan (DVD), Tori Amos, Manic Street Preachers, Squeeze (best of), Tributo a Joni Mitchell, Black Rebel Motorcycle Club
Brevemente:
7 de Maio: The Knife (edição Deluxe), Simian Mobile Disco, Björk, Groove Armada, Cinematic Orchestra, Elliott Smith, Yoko Ono, Dean & Britta
14 de Maio: Rufus Wainwright, OMD (reedição), Wilco, Larrikin Love
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21 de Maio: Blonde Redhead, Tiga (remisturas)
Maio: Four Tet, Gary Numan (BBC Sessions), Larrikin Love, The Bravery, Marilyn Manson, Jeff Buckley, The National
Junho: Spiritualized, Bonde do Role, Bryan Ferry (DVD)
Estas datas podem ser alteradas a todo o momento
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