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2. Linguagem. Figura modelar desse reino da “espontaneidade” que a televisão pretende ser, Herman tende a mostrar que... a espontaneidade não existe! Tudo é linguagem. Nos seus melhores momentos, os seus programas de humor fornecem-nos armas (perversas, sem dúvida) para lidarmos com as imposturas quotidianas da televisão. Depois de um arranque incerto e hesitante, Hora H está a encontrar o tom justo para o seu próprio projecto (obviamente reminiscente do saudoso Tal Canal): primeiro, foram secundarizadas as “derivações” menos interessantes (a personagem do “ucraniano” não encaixa neste universo e “bonecos” como o realizador brasileiro Edmilson Fitipaldi Filho carecem de potencialidades para aguentar muitas variações), sendo dada maior importância narrativa às situações que têm a ver com os programas do próprio canal de televisão (“Cnn”); depois, encontrou-se uma montagem cada vez mais ágil e contrastada; finalmente, têm surgido algumas magníficas personagens (por exemplo, o prof. Eduardo “Sabe” ou o entrevistado que acordou de um coma de 28 anos).
3. Músicas. O episódio de ontem (29 de Abril) — com o homem do coma, o vulcão de Cracatoa, a bombista distraída, etc. — foi, claramente, o mais conseguido até agora, tirando o melhor partido dos talentos do elenco. Pela primeira vez, tivemos a sensação de um programa coeso, não de uma mera colagem de sketches (mais ou menos conseguidos). Os números musicais, na melhor tradição do Tony Silva, ilustram de forma exemplar o sentido criativo, a subtileza crítica e alegria do Hora H — de programas anteriores, aqui ficam alguns extractos encontrados no YouTube, incluindo o já clássico “Trio Admira-te”.