terça-feira, março 06, 2007

FOTOGRAMAS: O Silêncio dos Inocentes, 1991

A pequena, e muito bem penteada, Precious (de seu nome verdadeiro: Darla) tem como dono um serial killer. Coisa, para ela, irrelevante, de tal modo que a jovem que a chama, do fundo do poço, apenas desperta a sua curiosidade como promessa de brincadeira. A cadela parece pressentir algum perigo mas, em boa verdade, nada sabe do que está a acontecer: a mulher foi raptada pelo assassino que todos perseguem e nem o espectador pode adivinhar se a agente do FBI, Clarice Starling (Jodie Foster), vai chegar a tempo. Este é um filme que se faz destas inesperadas conexões: neste caso, um incauto e simpático animal surge como elo vivo de uma cadeia de factos e personagens assombrada pela morte. É essa, talvez, a perene e perturbante sedução de O Silêncio dos Inocentes: num espírito de metódica fidelidade ao romance de Thomas Harris, a realização de Jonathan Demme consegue expor uma pulsão de vida todos os momentos tocada pelas sombras da aniquilação e do irreversível. É um filme estranhamente religioso, porque sobre a crença possível nas relações humanas, mesmo quando do outro lado está um monstro como Hannibal Lecter (Anthony Hopkins). Afinal de contas, Clarice apaixona-se pela inteligência de Hannibal. Nós também, embora tenhamos pudor em reconhecê-lo.

THE SILENCE OF THE LAMBS / O Silêncio dos Inocentes
EUA, 1991
Realização: Jonathan Demme
Produção: Ronald M. Bozman, Edward Saxon, Kenneth Utt
Argumento: Ted Tally, segundo romance de Thomas Harris
Interpretação: Jodie Foster, Anthony Hopkins, Scott Glenn