terça-feira, março 13, 2007

Discos da Semana, 12 de Março

Of Montreal “Hissing Fauna, Are You The Destroyer?”
Banda natural de Athens (na Georgia, EUA), que nasce em finais de 90 integrada na segunda geração de bandas da editora Elephant 6 (a mesma que, entre outras, revelou os Neutral Milk Hotel, Olívia Tremor Control ou Elf Power), os Of Montreal não são todavia mais que a expressão da criatividade, angústias, sonhos e desejos de um só homem. Ele é Kevin Barnes que, depois de quase dez anos afogado no que já designou ser um gueto indie, viu a sua música ser finalmente reconhecida por ocasião da edição dos seus mais recentes dois álbuns – Satanic Panic In The Attic (de 2004) e Sunlandic Twins (2005) – justiça então finalmente feita sobre alguns dos grandes feitos antes por muito ignorados, nomeadamente The Gay Parade (de 1999, espaço de notória reunião de colaborações de músicos de outras bandas da Elephant 6) e o bizarro, mas magnífico, Coquelicot Asleep In The Poppies: A Variety Of Whimsical Verse. Nos anos mais recentes, o cultor de uma pop retro (que não esconde um encanto pelos Kinks) e decorador de artes finais sob texturas psicadélicas tem permitido a entrada em cena de electrónicas pop com sabor a 80, numa paleta todavia mais próxima dos sabores que reconhecemos nuns Stereolab (e por vezes Legendary Pink Dots) que na presente vaga retro roqueira de travo new wave. O novo álbum, contudo, revela mais que um mero exercício estético de um espantoso compositor pop capaz de dominar, sem nunca perder o Norte, arranjos de invulgar complexidade. Hissing Fauna, Are You The Destroyer é a crónica de acontecimentos vividos nos últimos dois anos, da mudança do casal Kevin e Nina para a Oslo natal da segunda (para aí ter uma filha, usufruindo das vantagens do sistema de saúde norueguês) ao reencontro da vida feliz em Athens. Pelo meio uma depressão e ataques de ansiedade provocados pela inadaptação de Kevin a Olso, uma separação do casal quando do regresso aos EUA, um mergulho pela solidão e bebida e, finalmente, a paz reencontrada. As canções, escritas e gravadas à medida que iam surgindo, documentavam a viagem sombria que Kevin vivia, mas revelavam uma vontade de contrariar a tendência incapacitante da depressão pelo recurso a uma pop luminosa, o choque de contrários evidente entre palavras de pungente dor e melodias e ritmos de desafio festivo. Cronologicamente ordenadas, as cenas vividas conhecem viragem na já referida canção com efeito de twist narrativo, deambulação de 12 minutos que separa uma primeira parte pop de alma dorida e uma segunda onde a esperança é reencontrada. Entre memórias e melodias, Kevin mostrou como a pop pode ser, afinal, um excelente meio de terapia relativamente eficaz, económico, e sem efeitos secundários menos desejáveis.

LCD Soundsystem “Sound Of Silver”
Nos últimos anos poucos foram os discos que conheceram a adesão e provocaram ecos como o álbum de estreia do LCD Soundsystem. O álbum que justamente acabou eleito como a luz ao fundo do túnel que há muito se não sentia nas esferas da chamada “música de dança” e, ao mesmo tempo, o híbrido feito de colagem das ideias vividas no presente e de memórias escutadas em velhos discos, tradução exacta de uma saudável inquietude criativa que tem feito de Nova Iorque a sede de algumas das melhores revelações da presente década que se expõe não só na obra do LCD Soundsystem como na colheita da editora DFA, comandada pelo mesmo cérebro irrequieto. Depois de uma peça de 45 minutos para “manutenção” (literalmente), eis o mui esperado segundo álbum, nada mais que uma evolução na continuidade, mais cautelosa que talvez se esperasse e, apesar dos feitos, com uma colecção de canções impossível de vencer a magistral montra mostrada no álbum anterior. Na verdade, James Murphy mais não faz aqui que aplicar, de novo, a filosofia “diz-me quem citas, dir-te-ei quem és” que já aplicara ao disco anterior. Krafwerk, Liquid Liquid, Brian Eno e um evidente piscar de olho por notas soltas pelo livro de estilo do punk regressam à berlinda. A eles juntam-se Human League, Velvet Undreground, Bowie, The Fall (cada vez mais Mark E Smith parece referência vocal para James Murphy) e... o próprio LCD Soundystem. Ou seja, o citador acaba citado por si mesmo, num processo de cícliva invenção e reenvinção, afinal nada mais que uma mecânica de construção artística que, hoje, domina diversos cenários da criação.

The Long Blondes “Someone To Drive You Home”
O filão pop/rock de inspiração new wave não parece estar a revelar grande capacidade das bandas em dar segundos passos. Mas ainda há primeiros que, a chegar só agora, merecem a nossa atenção. É o caso dos Long Blondes, que neste disco se confirmam como mais que meros bons criadores de singles de pujança pop, viço eléctrico e desafio dançante. O álbum, produzido pelo ex-Pulp Steve MacKay, não fica aquém de pequenas pérolas pop como Giddy Stratospheres ou Weekend Without Makeup, reinventando o eficaz melodismo de uns Blondie com a força de uns Elástica, sob ocasional tempero vocal a lembrar Lene Lovich. Uma seiva cinéfila corre nas palavras, um sentido de imagem pelo artwork... Começam bem...

Heróis do Mar “Amor”
Com o subtítulo “O Melhor dos Heróis do Mar 1981-1989”, este é o primeiro best of dos Heróis do Mar a contar a sua história pop(ular) das duas etapas editoriais da vida da banda. Ou seja, a fase PolyGram (1981-85), estética, criativa e comercialmente mais bem sucedida, e a etapa EMI (1986-89), mais discreta, mas não menos dotada de grandes momentos (para tal bastando ouvir Fado, O Inventor ou Africana). O alinhamento concentra-se nos singles, com pontuais convites a lados B ou faixas de álbuns, incluindo como única novidade “digital” a Versão Nocturna de Amor, com colaboração vocal de Né Ladeiras.

Também esta semana:
Magazine (reedições), Blind Zero, Talking Heads (best of – reedição), Fratellis, Tarnation

Brevemente
19 de Março: Andrew Bird, Panda Bear, Rakes, David Bowie (reedições), Kronos Quartet, Neil Young, Jah Wobble, Christian Gansch (Beethoven), New Young Pony Club, Paulo Praça
26 de Março: Brett Anderson, Gary Numan (BBC Sessions), Kieran Hebden + Steve Reid, Norton, Bananarama (reedições), OneTwo, Laura Veirs, Teresa Salgueiro, Doors (reedições), Wedding Present (BBC Sessions), Vários (Mute Archive 1), Yardbirds (best of), The Bees, Jean Michel Jarre
2 de Abril: Maximo Park, Kings Of Leon, Da Weasel, Waterboys, Modest Mouse, Prefab Sprout (reedição), Low, Herbert, DJ Vadim

Abril: Patti Smith, Bright Eyes, Spiritualized, Nine Inch Nails, The Knife (DVD), Da Weasel, Arctic Monkeys, Maria João, CocoRosie, Cowboy Junkies

Maio: Rufus Wainwright, OMD (reedição), Tori Amos

Estas datas podem ser alteradas a todo o momento