Terminada há poucas semanas a exposição de retratos de David Hockney na National Portrait Gallery, a exposição mais "vistosa" que Londres agora oferece apresenta-nos um percurso no tempo através da obra da dupla britânica Gilbert & George. Ocupando todo o nível 4 da Tate Modern, Gilbert & George: Major Exhibition começa por nos recordar as primeiras obras, para carvão e papel, que a dupla criava em inícios de 70, de comum com o trabalho de manipulação posterior, apenas havendo então a dimensão enorme das peças e, já, a auto-representação, obsessiva, dos dois criadores.
Num percurso de 18 salas, às quais se junta o hall do nível 4, no qual se apresentam obras contemporâneas (as mais recentes já de 2006, dominadas pelas temáticas do medo de ataques sob o qual vive hoje a cidade de Londres), acompanhamos a evolução gradual de uma linguagem visual muito característica, que tanto se ocupa da observação (e transformação) do corpo como procura integrar mecanismos do discurso publicitário num subtexto que veicula, pela arte, uma filosofia de agitação e provocação. A maior parte das imagens que servem estas peças de dimensões consideráveis é captada nas imediações do local onde a dupla vive, no East End londrino. De certa maneira, o acompanhar da descoberta desta obra, de 1970 à actualidade, acaba por promover retratos possíveis de certas manifestações de subculturas na periferia das linguagens artísticas e sociais dominantes, presente estando sempre obsessões evidentes com o corpo, a sexualidade e uma noção de pose (que parece herdada da tradição vaudevillesca britânica, com natural expressão na cultura pop dos últimos 40 anos). Estátuas vivas, captadas, manipuladas e fragmentadas, para ver até Maio na Tate Modern.