Sobre dois discos de Emil Gilels: 'Early recordings' e 'The Mozart recordings' (Deutsche Grammophon, 2006) >>> Na árvore genealógica dos pianistas do leste europeu, o russo Emil Grygorievich Gilels (1916-1985) ocupa um lugar central. Por um lado, como é óbvio, por causa desse paradoxo de crueza e elegância que caracteriza os seus registos, sempre marcados por uma intransigente depuração técnica; por outro lado, porque, depois das primeiras três décadas da Revolução de Outubro (a partir de 1947), Gilels foi um dos primeiros artistas soviéticos a ser autorizado a deslocar-se ao estrangeiro. Com estes dois álbuns (ambos duplos), a Deutsche Grammophon reabre as portas de um fascinante universo criativo, e tanto mais quanto o leque de obras é muito variado e suficientemente contrastado. As primeiras gravações (a partir de 1935) incluem, entre outros, Schumann, Prokofiev e Chopin, não faltando uma sonata de Beethoven (op. 2, nº 3), afinal um dos nomes mais emblemáticos na carreira de Gilels. O álbum “mozartiano” é uma maravilha de muitas subtilezas, culminando no concerto para dois pianos e orquestra K. 365, gravado em 1973, tocado com a filha Elena Gilels e a Filarmónica de Viena, sob a direcção de Karl Böhm.
* Texto publicado na revista Op (nº 21, Inverno 2006)
* Texto publicado na revista Op (nº 21, Inverno 2006)