Se Phantom Limb podia ser tido como uma promessa, o álbum é o seu total e absoluto cumprimento. Distante do mais austero Chutes Too Narrow (2003), reencontrando assim a luminosidade e ecletismo da soberba estreia em Oh, Inverted World (2001), os Ths Shins conhecem no seu terceiro álbum o palco de consagração que há muito a sua obra justificava mas, até aqui, o contexto não permitira. Wincing The Night Away, está a ser um dos mais falados em início de ano, firme admiração junto do público que os viu nascer, mas também alvo das atenções de novas multidões que os começam a descobrir (o segundo lugar alcançado, há dias, no top de vendas americano, é disso clara confirmação). Nas referências, e sabores imediatos, Wincing The Night Away é evidente sucessor dos dois primeiros álbuns. Aqui estão as melodias aprendidas com os Beach Boys e Donovan, as guitarras escutadas nos Byrds e XTC (de segunda fase), a sensibilidade poética e vocal de Syd Barrett e Nick Drake, a grandiosidade nunca despropositada de uns Big Star. Mas este é um disco que vai mais longe, não só na mais cuidada e complexa teia de texturas (certo sendo que as electrónicas já pontuam, discretamente, as canções dos The Shins desde Girl On The Wing, do primeiro álbum) e na boa gestão de agendas retro convocadas. Este é um disco que nasce também da reflexão sobre factos que a vida recente trouxe a James Mercer, sem evitar a sua habitual tendência para uma poética frequentemente surreal. A insónia, crises de ansiedade, pensamentos sobre a inadaptação de certas gentes em certos lugares, cruzam canções que não nascem de um qualquer vampirismo intelectual sobre destinos alheios, antes procuram internamente pequenas crises das quais afloram tentativas de resposta. Mercer e os amigos ainda são os rapazes de boas maneiras, de canções de arestas polidas, de evidente gosto pelo teatro pop inglês em solo indie americano. Mas agora conciliam certos olhares por eventuais pesadelos (e dos que os rodeiam) com naturais sedes de escapismo. Este é um disco de linguagem pop dominada, de canções certeiras (onde não se veta a presença de ensaios mais ousados). Turn On Me, a terna lullaby que é Red Rabbits, o irresistível Phantom Limb... Disco do ano? Já?...
Klaxons “Myths Of The Near Future”
A história da cultura rock’n’roll, sobretudo na sua relação com as legiões de adolescentes que constroem heróis (nem que durante os três minutos que dura uma canção), sempre gostou de fabricar os seus mitos. E não há nada como a imprensa musical britânica quando chega a hora de inventar e exportar o mito que se segue. Já escolheram mal (lembram-se dos Carter The Unstoppable Sex Machine?). Mas regularmente acertam, nem que por uma temporada. E nos últimos meses, não houve candidatos a mitos do futuro que se segue como os Klaxons. Chamaram a uma sequência de espantosos singles – Atlantis To Interzone, Gravity's Rainbow, Magick e, mais recentemente, Golden Skanks – uma pulsão pós-punk não muito distante que anima grande parte das bandas mais jovens britânicas depois dos Libertines, mas temperaram a coisa com a recuperação de um sentido de energia e fúria dançante captada em discos mais longínquos (Prodigy dos primeiros tempos, LFO ou os Altern 8), desafiando até a uma colaboração o DJ Paul Oakenfold, um dos que maior visibilidade teve na música de dança de inícios de 90. Chamaram-lhes embaixadores do movimento new rave... Termo interessante, mas como tantos outros, apenas rótulo para consumo fácil. Ouvindo agora o álbum confirma-se a ainda débil solidez de uma ideia que concentra ideias em bons singles, mas não sustenta de igual forma o resto do alinhamento de um álbum que, no fim acaba desigual exposição de canções com viço e tijolos inconsequentes que só ali estão para não deixar a parede com buracos. Excepção apenas em Isle Of Her, curiosa reinvenção de postulados esquecidos da velha negritude early 80's (escola Gary Numan)
Bloc Party “A Weekend In The City”
O primeiro disco dos Bloc Party foi talvez o mais sobrevalorizado entre os álbuns que há dois anos nos mostravam uma nova geração de bandas rock animadas por referências colhidas na efusiva genética pós-punk. De muito seu mostravam uma postura vocal de evidente personalidade e ainda uma interessante vontade em criar um híbrido que convocasse, além dessas referências, um conjunto de pistas dançadas em clubes atentos aos novos destinos do ritmo. Mas era no campeonato da composição que os Bloc Party escorregavam, ocasionalmente construindo boas canções (como Banquet ou Helicopter), mais frequentes sendo os acessos de banalidade com ar design do momento... O segundo álbum acentua em tudo as fraquezas de um colectivo que o hype do momento fez caso de grande visibilidade. Com algumas canções perto do banal, um álbum competente, mas pouco estimulante.
Tanya Donelly “This Hungry Life”
Ao mesmo tempo que Kristin Hersh, Tanya Donelly, a outra força motriz dos Throwing Muses, edita um novo álbum. Mas bem diferente! Gravado, ao vivo, frente a uma discreta plateia, no bar de um hotel em Bellow Falls, This Hungry Life revela uma outra intimidade, promovida também pelas características familiares de uma banda onde encontramos o seu marido (Dean Fischer) e os amigos Joe McMahon, Joan Wasser (Joan as Policewoman) e Arthur Johnson, contando com Bill Janovitz (dos Buffalo Tom) para uma versão de Long, Long, Long, de George Harrison. Entre novas composições e velhas canções, o quarto álbum a solo de Tanya Donelly acentua a demanda de raízes americanas profundas que o anterior Whiskey Tango Ghosts já revelara, procurando em nome próprio um caminho cada vez mais distante dos que já percorreu via Throwing Muses e Belly. Terno, íntimo, aconchegado, a rugosidade do momento intacta, distante portanto da busca de perfeição que o estúdio depois promove.
Também esta semana:
Triffids (reedições), Nick Cave (DVD)
Brevemente:
12 de Fevereiro: U-Clic, Amy Winehouse (edição local), Van Morrisson (músicas para cinema), Peter Björn & John, Nick Cave (live CD), (live)
19 de Fevereiro: John Cale (live), Lucinda Williams, Johnny Greenwood, Field Music
26 de Fevereiro: Patrick Wolf, Kaiser Chiefs, Blind Zero (acústico), Pop Levi, Bowie (mais seis reedições), Gus Gus, Tarnation, High Llamas, Frank Black, Stereo Total, Gus Gus, Damned (reedição)
Março: Arcade Fire, Air, Bryan Ferry, Mika, The Knife (DVD), Gary Numan (BBC Sessions), Kieran Hebden + Steve Reid, Da Weasel, Arctic Monkeys, LCD Soundsystem, The Stooges, Norton
Abril: Rufus Wainwright, Bright Eyes, Spiritualized, ModesJohnny Cash t Mouse
Estas datas podem ser alteradas a todo o momento