Não faz muito sentido dizer que The Confessions Tour seja um DVD que regista algo que aconteceu num palco. Desde logo, porque a própria noção tradicional de palco está posta em causa, mas também porque não se trata apenas de "registar" ou "reproduzir" — das coreografias às proezas pessoais, tudo o que aqui acontece resulta de um conceito global de espectáculo, tão minucioso e obsessivo que se reflecte, afinal, no mais pequeno fragmento que dele possamos autonomizar. Exemplo? Por vezes, a realização de Jonas Akerlund recupera o velho método de sobreposição de imagens (lembremos tal método na arte narrativa de um cineasta clássico como George Stevens), não para "passar" de uma situação a outra, antes para criar momentos de pura suspensão poética. Vemos, assim, o rosto de Madonna como uma paisagem de abertura para as peripécias do espectáculo e também de síntese dos seus valores. É uma serena exaltação da beleza das formas e, além do mais, uma boa metáfora.