Impressionante imagem: um telemóvel onde alguém observa o video da execução de Saddam Hussein registado com outro telemóvel. Disponível no site inglês da televisão Al Jazeera, a imagem ilustra a notícia relacionada com a prisão, pelo governo do Iraque, de uma pessoa suspeita da autoria desse video (amplamente difundido pela Net). A legenda diz: "O video espalhou-se rapidamente através do planeta." Que é como quem diz: seja do ponto vista comunicacional, seja no plano ético, a compreensão de um fenómeno deste género — e, sobretudo, desta escala — passa, obviamente, pelo horror da banalização da morte, mas também pela rede tecnológica que pode sustentar e, de alguma maneira, induzir tal tipo de fenómeno. Está em jogo a herança geopolítica da ditadura de Saddam Hussein — como recorda a CNN, um símbolo de crueldade—, mas também os modos como acedemos às mais variadas formas de informação visual e sonora.
Passámos a viver num mundo em que a simultaneidade e a instantaneidade das imagens não se pode medir apenas (nem sobretudo) pela informação acumulada — até porque muita dessa informação é repetitiva, redundante ou exuberantemente superficial. Este é, afinal, um mundo que promove a ilusão da sua própria transparência. De facto, o planeta apresenta-se-nos como uma espécie de mapa virtual que se expande através do volume crescente de informação, ao mesmo tempo que, paradoxalmente, se reduz a zonas — muitas vezes ecrãs — de consumo cada vez mais rotineiro.
Não podemos (e, a meu ver, não devemos) demonizar a tecnologia. Mas talvez devamos (e, sem dúvida, podemos) fazer um esforço para pensar que mundo é este em que mesmo as mais brutais e anónimas imagens de morte se instalaram nos circuitos íntimos do nosso quotidiano. Pode acontecer-nos tirar um objecto do bolso e ver nele um homem enforcado — literalmente.
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Passámos a viver num mundo em que a simultaneidade e a instantaneidade das imagens não se pode medir apenas (nem sobretudo) pela informação acumulada — até porque muita dessa informação é repetitiva, redundante ou exuberantemente superficial. Este é, afinal, um mundo que promove a ilusão da sua própria transparência. De facto, o planeta apresenta-se-nos como uma espécie de mapa virtual que se expande através do volume crescente de informação, ao mesmo tempo que, paradoxalmente, se reduz a zonas — muitas vezes ecrãs — de consumo cada vez mais rotineiro.
Não podemos (e, a meu ver, não devemos) demonizar a tecnologia. Mas talvez devamos (e, sem dúvida, podemos) fazer um esforço para pensar que mundo é este em que mesmo as mais brutais e anónimas imagens de morte se instalaram nos circuitos íntimos do nosso quotidiano. Pode acontecer-nos tirar um objecto do bolso e ver nele um homem enforcado — literalmente.