quinta-feira, janeiro 04, 2007

Todas as solidões do mundo

Duas mulheres: a pequenita e talentosa Elle Fanning (irmã da não menos brilhante Dakota Fanning) e essa espantosa actriz mexicana que é Adriana Barraza — elas definem o movimento pendular do filme Babel, de Alejandro González Iñárritu. Trata-se de encenar a história de cada personagem como um drama cujas raízes, enigmas ou efeitos se conjugam noutro lugar, porventura do outro lado do mundo. Nesta perspectiva, a estratégia narrativa de Iñárritu (e do seu argumentista Guillermo Arriaga) não corresponde exactamente à criação de uma teia de histórias paralelas, mas mais à afirmação de um conceito novo, saído da ressaca do pós-modernismo. A saber: já não há histórias paralelas ou cruzadas porque, no limite, somos todos personagens de uma história única, global e envolvente. Daí a beleza intrínseca de Babel, aliás retomando o paradoxo poético do seu anterior, e também extraordinário, 21 Gramas (2004): num mundo em que tudo comunica com tudo, estamos condenados a redefinir as coordenadas da nossa própria solidão — ou dessa pluralidade imensa, babélica, feita de todas as solidões.
>>> Vale a pena escutar Iñárritu (já depois da passagem do filme por Cannes) e também o seu director de fotografia, Rodrigo Prieto.