Junior Boys “So This Is Goodbye”
Num ano que acolheu já espantosos álbuns de canções onde as electrónicas são ferramente predominante – como Love Songs Of The Hanging Gardens de Kelley Polar, Silent Shout dos The Knife ou The Warning dos Hot Chip – o segundo álbum dos Junior Boys é reforço de uma família de acontecimentos que parece querer romper com uma ideia, errada, que aponta a pop de alma digital a destino inevitável na pista de dança. Assim pode até ter acontecido com as primeiras manifestações de personalidade deste mesmo duo, sobretudo quando acabado de emergir de Hamilton (no Ontário), sob os comandos de Jeremy Greenspan e Johnny Dark. O quase total afastamento deste último, mais evidente agora a presença do engenheiro de som Matt Didemus entretanto reunido a Greenspan, acabou por conduzir a evolução do som dos Junior Boys para terrenos distintos dos que haviam revelado no álbum de estreia Last Exit (2004). So This Is Goodbye é um disco de espaços íntimos, electrónica de face pop para conforto em casa, excepção única para o afloramernto de intensidade rítmica, mesmo assim moderada, que se escuta em In The Morning (onde colabora Andi Thoma, dos Mouse On Mars), curiosamente tomado como um momento de transição, editado como single há alguns meses, estabelecendo uma ponte para o que de mais pessoal o álbum agora revela. O álbum é filigrana de elementos electrónicos, requinte de melodia pop, cenário ideal para uma voz tranquila que, a meia-luz, nos canta as dúvidas do amor dissipado, contemplando uma solidão presente. Sem nunca promover a dor como caminho para a depressão, antes a reflexão como mecanismo de iluminação, as canções aceitam a luz possível em quadros que evocam a elegância de uns Blue Nile, a tepidez emotiva de uns OMD, a noção de espaço aprendida com Brian Eno. Este, de resto, é mestre ostensivamente assimilado no refrão em FM, espantosa e arrebatadora balada digital que nos dá conta do que seria uma canção dos Prefab Sprout se Paddy MacAloon trocasse as guitarras pelos sintetizadores. Outra das jóias maiores de um álbum de espantosa coerência é uma versão de When No One Cares, canção imortalizada por Frank Sinatra, transformada num registo de superior requinte digital. Um dos discos do ano!
Guillemots “Through The Window Pane”
Alguns dos discos mais marcantes dos últimos dois anos nasceram do exército de colagem de referências, amálgamas de ideias, mashes de estilos e formas. Arcade Fire, Clap Your Hands Say Yeah, Architecture In Helsinki, Patrick Wolf… Os Guillemots são mais uma carta neste baralho. Um quarteto multinacional sediado em solo inglês e de alma e desejos em tudo distintos das correntes que, ali, escrevem as grandes notícias da actualidade. A sua música, estimulante e desafiante, sugere uma grande e saudável salada de referências sem geografia nem tempo definidos (sendo todavia evidentes algumas ligações a elegantes escolas pop “ambientais” de 80, nomeadamente os Blue Nile, Dream Academy ou Prefab Sprout). Entre uma placidez ambiental de textura elaborada e ocasionais momentos onde a intensidade rítmica ganha maior viço carnal, faz-se um álbum que exige tempo e dedicação, tão diferentes as formas e tons que se sucedem, cada canção uma surpresa. No tema título tropeçam na armadilha Coldplay, mais logo depois salvam a pintura. Aqui há carisma, verve poética e um raro sentido de liberdade. Este ainda não é o disco perfeito, mas desde já consagra os Guillemots entre os raros grupos da Inglaterra actual onde a personalidade criada supera as amálgamas de referências citadas.
The Veils “Nux Vomica”
Dois anos depois de promissora estreia em The Runaway Found, os neo zelandeses The Veils (sediados em Londres) fazem do segundo álbum uma mais consistente montra de uma personalidade compósita que revela, sem receio, a admiração por sóbrios modelos clássicos de escola indie (Echo & The Bunnymen, Bithday Party, The Cure e The Smiths). Canções bem estruturadas, uma produção encorpada (belo trabalho de guitarras) e a cada vez mais característica voz de Finn Andrews garantem mais um passo seguro numa carreira que continua a prometer futuro. Atenção a Pan e One Night On Earth, dois dos potenciais grandes hinos de rádio do ano!
Nuno Prata “Todos Os Dias Fossem Estes Outros”
A abertura, ao som de Não, Eu Não Sou Um Fantasma, dá-nos uma das melhores canções nascidas este ano entre nós. E o álbum, mesmo nunca repetindo este momento de superior inspiração, não deixa de ser um dos mais interessantes acontecimentos nacionais pop/rock deste ano. Denota claras heranças da árvore Ornatos Violeta (nada de grave, Nuno Prata tendo sido um dos responsáveis pela construção dessa identidade). Mas procura agora outras demandas, na primeira pessoa, reforçando a prioridade da canção como veículo para a afirmação dessa busca, processo ainda em curso mas de que este álbum é primeira e promissora revelação. Um disco a escutar, e mais uma boa prova de novas, e válidas, opções de reencontro com a língua portuguesa em terreno pop/rock.
Loto “Beat Riot”
A excessiva identificação com modelos de referência (que nunca é grave, e, de resto, natural, em qualquer disco de estreia) cede lugar a uma ideia mais interessante: a do desafio aos ícones admirados para que participem, eles mesmos, no processo de gradual demarcação da citação e início da projecção de um caminho pessoal. Peter Hook, presente. Del Marquis, idem. Melhor design de interiores na gestão do som, palavras menos vazias. Produção com mais corpo, cor e intensidade. Mas poucas vezes a canção está ao nível do melhor que os Loto nos mostraram no passado. Ou seja, ao aperfeiçoamento técnico (inegável) não souberam fazer acompanhar o correspondente salto criativo que as novas abordagens aqui pedem.
Também esta semana: Pixies (dois DVDs), Charlotte Gainsbourg, Alex Kid, Lurent Garnier, Lloyd Cole
Brevemente:
2 de Outubro: CSS, The Killers, Arrested Development, Juliette & the Licks, Black Keys, Mercury Rev (best of), Four Tet (remisturas), Depeche Mode (3 reedições e um DVD), Arthur Russell (reedição), The Byrds (caixa), Whitest Boy Alive
9 de Outubro: The Gothic Archies, Cerys Mathews, The Pipettes (edição nacional), The Answer, The Datsuns, The Bluetones, I Am Ghost, Pet Shop Boys (ao vivo), Beck (edição nacional)
16 de Outubro: U-Clic, Maximilian Hecker, Osvaldo Golijov (ópera)
Outubro: Sam The Kid, Sérgio Godinho, The Gift (ao vivo CD e DVD), Protocol, Goldfrapp (remisturas), Pet Shop Boys (DVD), Philip Glass (ópera), Duran Duran (2 reedições), Robbie Williams, Clinic, Chuck E Weiss, Jay Jay Johansson, Isobel Campbell, Aimee Mann, Agnés Jaoui
Novembro: Humanos (ao vivo), Mariza (ao vivo), Tom Waits, Moby (best of), Jarvis Cocker, Sons & Daughters, Bryan Ferry, The KBC, Third Eye Foundation.
Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento