
Estranho, sem dúvida. Sobretudo porque nunca ninguém interroga a dignidade ou indignidade das vitórias. Insolitamente, o que este dispositivo ideológico rasura são as próprias diferenças desportivas. É certo que, no exemplo em causa, tais diferenças foram referidas, mas não basta dizer que uma selecção portuguesa perdeu com uma selecção infinitamente superior (seja ela qual for) — de acordo com este discurso purificador, é preciso acrescentar que a superioridade do adversário foi, de algum modo, "anulada" pela dignidade dos nossos atletas.
Vivemos, assim, numa permanente dramatização extremista que, insisto, nos faz perder o contacto com a realidade dos adversários. De facto, o que este nacionalismo pueril favorece é uma militante incapacidade de avaliar — e, mais do que isso, admirar — os adversários. Por mim, diria que essa incapacidade é, em termos desportivos, uma indignidade.