E quando já não é possível ver?
As imensas respostas a esta pergunta poderão definir um objecto de estudo que está por organizar. Ou seja: a "História da Representação da Noite nos Filmes" — as noites mudas de Griffith não são, seguramente, as mesmas que, nos anos 30, eram assombradas por Bela Lugosi e outros vampiros, como também não são aquelas pelas quais circulava Robert De Niro, em meados dos anos 70, em Taxi Driver. Digamos, então, que surgiu uma nova e empolgante resposta. Quem a dá é Michael Mann no seu fabuloso Miami Vice, uma fulgurante reinvenção da série televisiva, apenas simpática, de meados dos anos 80.
Dois anos depois de Colateral, Mann volta ao digital para filmar uma história labiríntica em que o escuro da noite, mais do que um "ambiente", constitui uma complexo território dramático a que uma sofisticadíssima câmara digital (Viper FilmStream) confere a espessura, a densidade e a profundidade de um novo palco cinematográfico. Colin Farrell, Jamie Foxx e Gong Li emprestam uma vibração muito particular a personagens de um filme cuja rodagem constituiu, em si mesmo, a afirmação de um conceito dinâmico de criação — é um dos grandes acontecimentos do Verão e, por certo, um dos filmes maiores de 2006.
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