segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Discos da semana, 6 de Fevereiro

Tiga “Sexor”
Durante anos trabalhou como DJ, cruzando sobretudo espaços house e techno em solo canadiano, mais tarde experimentando outras paragens. O canadiano ganhou todavia visibilidade global quando juntou aos discos dos outros a sua própria música, com primeiros sinais de personalidade escondidos por detrás de uma versão electro(clash) de Sunglasses At Night. Sem pressa, começou a aprofundar o trabalho como compositor e intérprete, num processo que nos obrigou a esperar quase cinco anos por um álbum de estreia. Ei-lo. Chama-se Sexor é é um dos mais entusiasmantes discos de música assumidamente pop feita para dançar que ouvimos nos últimos tempos. Tiga sobreviveu incólume ao electroclash (o que o não impediu de trazer alguns temperos electro para o álbum) e mostra aqui uma inesperada capacidade em pensar um álbum como mais que uma compilação de máxi-singles para rodar em pistas de dança. Sexor tem alma, tem coerência, tem rumo e desejos definidos. É vivo, actual e entusiasmante. É pop, garrido, positivo. É dançável, mas quando nos preparamos para o floor filler que se pensa que vem a seguir, Tiga dá-nos as voltas e lembra-nos que estamos, afinal, em casa a ouvir música. Há muito que a música de dança e a pop electrónica não se entendiam tão bem…

Sparks “Hello Young Lovers”
Apesar de todo o respeito com o qual a banda dos manos Mael deve ser reverenciada (mais de 30 anos de uma obra com episódios notáveis assim o justifica), não podemos deixar de ver este novo disco como um discreto baralha-e-volta-a-dar face ao que nos mostraram, há quatro anos, no sublime Lil’ Beethoven, onde desmontavam estruturas pop sob a intervenção de arquitecturas de construção minimalista à la Philip Glass. Lil’ Beethoven é daqueles discos insuperáveis, e o seu peso sob a carreira dos veteranos Sparks foi tal que, ao fazer o disco seguinte, continuam vergados sobre a sua presença. Este é um disco que, mais que de continuidade, é de absoluta repetição de modelos trazendo de novo, apenas, algum travo rock operático que evoca os dias que o duo viveu entre 1974 e 76 (quem falar em comparações com os Queen, faça o favor de verificar que Kimono In My House, dos Sparks, antecedeu A Night At The Opera). Hello Young Lovers parece mais um conjunto de boas sobras de Lil’ Beethoven que um álbum de inéditos acabados de sair do laboratório. Não é um disco medíocre, já que inclui algumas peças notáveis como Waterproof, Metaphor ou o fabuloso There’s No Such Thing As Aliens. Mas depois de tamanha obra-prima, as expectativas fizeram-nos aguardar por mais… Nada de grave numa obra que já viveu entre o melhor e o (bem) pior.

Belle & Sebastian “The Life Pursuit”
Desde a edição do seu primeiro álbum, os Belle & Sebastian ganharam merecida admiração junto de um público melómano que se deliciou com as capacidades invulgares de um colectivo capaz de juntar na sua música toda uma multidão de heranças clássicas, criando em diversos álbuns (e sobretudo em muitos EPs) algumas das melhores canções que os últimos anos nos deram. The Life Pursuit segue-se a um álbum de aprimoramento formal do som (e consequente abertura a novos e mais vastos públicos). Continua a caminhar nesse sentido, abrindo sobretudo espaço a uma pop melodista e imediata, capaz de disputar um lugar em qualquer FM, mas onde o sentido de desafio de outros dias parece ter trocado de lugar com um desejo em fazer carreira mais… visível. Nada de errado nisso e, ao contrário do que já escutámos noutras opções neste mesmo sentido por outras bandas, este nem é um mau disco. Mas depois de uma série de edições acima da fasquia do muito bom, The Life Pursuit acaba por ser o menos suculento que nos apresentaram até hoje. Umas boas canções, sim, mas sem a mesma capacidade em arrebatar…

Ride “Nowhere”, “Carnival Of Light”, “OX4”, “Waves”
Acorde a Warner portuguesa a horas de assegurar entre nós a reedição de uma das mais injustamente esquecidas bandas indie rock britânicas de finais de 80 e inícios de 80, não alinhada nem na corrente shoegazer (apesar de pontuais afinidades nos primeiros tempos) nem na euforia dançável que gerou o Madchester e afins. Os Ride foram uma das muitas bandas (juntamente com os House Of Love, My Bloody Valentine ou Birdland) a ganhar a admiração dos melómanos e divulgadores ingleses depois do fim dos Smiths. A sua música cedo mostrou que havia neles uma consciência histórica que ultrapassava a mera apropriação de lógicas de electricidade distorcida em voga na segunda metade de 80, começando a abrir espaço de comunicação com o legado estimulante do psicadelismo, aí encontrando a sua verdadeira vocação. Esta reedição devolve-nos dois álbuns de originais – Nowhere (1990) e Carnival Of Light (1994) -, a antologia OX4 e Waves, uma colecção de sessões gravadas na BBC. Faltam, para completar o retrato, o fundamental Going Blank Again (1992) e os menos cativantes Live Light (1995) e Tarantula (1996).

Também esta semana: Calla, William Orbit, The Czars, Film School

13 Fevereiro: Beth Orton, Talking Heads (reedições), Larry Levan, Los Lobos, David Bowie (live EP), Paul Weller (best of), Tears For Fears (reedição), The Tommy Boy Story (compilação), Erasure, Bell Orchestre, Faris Nourallah, The Television Personalities
20 Fevereiro: Eels (ao vivo + DVD), The Architects, Wonderstuff, Anouk, 12”/80s Dance, Jacinta, Liars
27 Fevereiro: Cindy Kat, X-Wife, 4Ahero, We Are Scientists, Elvis Costello, Burt Bacharah, Chico Buarque (DVD)

Março: White Rose Movement, Protocol, Death From Above 1979, Spiritualized, Mogwai, Scritti Politti, Madonna (DVD), Morrissey, Beach Boys (reedição), Placebo, David Bowie (DVD), Charlatans, Mudhoney, Nick Cave (BSO), Neko Case, Clear Static, Placebo, Massive Attack (compilação + DVD), Outkast, Graham Coxon, She Wants Revenge, Maximo Park (lados B), The Organ (reedição), The Rakes, Scissor Sisters (data a confirmar), Tributo aos GNR, Gorillaz (DVD), Maria Teresa de Noronha (caixa), Camané (DVD), Madonna (DVD)
Abril: British Sea Power, Flaming Lips, Thievery Corporation, Moloko (best of), Garbage (best of), The Dears, Calexico, Pearl Jam, Pet Shop Boys, The Streets, Air, Red Hot Chilli Peppers, Tortoise, Prince, The Cure

Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.

MAIL