Shelley Winters faleceu (sábado, dia 14) aos 85 anos de idade. A sua condição inicial de vedeta "obrigatória" dos anos 40 — loura e mais ou menos superficial — deixou na sua carreira uma ambivalência que a limitou tanto quanto, em boa verdade, ajudou a diversificá-la. Ela foi, afinal, alguém que teve consciência de que, para impor o seu talento, deveria partir da sua "imagem-de-marca", precisamente para a desenvolver e contrariar. Mais de uma centena de filmes bastam para explicar o âmbito do seu desafio e também o seu imenso talento. Ganhou dois Oscars como actriz secundária: em 1960, com O Diário de Ann Frank (na imagem) e em 1966, com Uma Réstia de Azul. Em todo o caso, a sua memória está mais fortemente ligada a duas composições emblemáticas: a da jovem vítima da teia amorosa entre Elizabeth Taylor e Montgomery Clift, em Um Lugar ao Sol (1951), de George Stevens, e a da mulher que julga ter domado o insondável Humbert Humbert (James Mason), em Lolita (1962), de Stanley Kubrick. Vimo-la também, por exemplo, em A Sombra do Caçador (1955), o único filme dirigido por Charles Laughton, A Vida Íntima de Quatro Mulheres (1962), de George Cukor, Harper, Detective Privado (1966), de Jack Smight, Alfie (1966), de Lewis Gilbert, ou Os Caçadores de Escalpes (1968), de Sydney Pollack. Em todos eles ficou a marca vibrante de uma actriz cuja versatilidade emocional é inseparável da sua ligação à tradição do Actors Studio. Retrato de uma Senhora (1966), de Jane Campion, onde contracenava com Nicole Kidman, foi um dos seus derradeiros trabalhos.