terça-feira, dezembro 20, 2005

Truffaut: Ann, Muriel e Claude

Chegou, finalmente, ao mercado português do DVD As Duas Inglesas e o Continente (1971), um dos mais mais belos — e também mais "invisíveis" — títulos da filmografia de François Truffaut (1932-1984). O filme marca o reencontro de Truffaut com a obra de Henri-Pierre Roché, escritor de quem já adaptara Jules e Jim (1962), provavelmente a sua obra mais célebre ou, pelo menos, mais influente. Num caso como noutro, trata-se de colocar em cena um triângulo amoroso muito pouco ortodoxo (se é que tal contradição descritiva pode ser sustentada). As duas inglesas são as irmãs Ann e Muriel Brown (Kika Markham e Stacy Tendeter, respectivamente) que, no princípio do século XX, travam conhecimento com o francês Claude Roc, o "continente" (interpretado pelo actor fetiche de Truffaut, Jean-Pierre Léaud) — o seu envolvimento vai gerar uma teia de laços e rupturas que, em última instância, colocam à prova os conceitos correntes de "entrega" e "fidelidade". Produzido dois anos antes do filme (A Noite Americana) que projectaria internacionalmente o nome de Truffaut, As Duas Inglesas e o Continente é um objecto de admirável crueza emocional e, ao mesmo tempo, de uma sublime contenção poética. É, além do mais, um dos filmes que mais e melhor ilustra a ligação de Truffaut ao universo tutelar de Jean Renoir (o DVD, sem extras, é uma edição da Costa do Castelo).

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