segunda-feira, março 03, 2025

OSCARS — a noite em que A Complete Unknown
não ganhou qualquer prémio

Dylan, aliás, Chalamet: A Complete Unknown, zero Oscars

1. Assim vai o mundo: uma crónica anedótica, parte comédia burlesca, parte "filme-de-mensagem" (feminista, hélas!), emerge como modelo ideal dos quase 10 mil votantes da Academia de Hollywood. A saber: Anora recebeu 5-Oscars-5, incluindo o de melhor filme do ano. Isto numa noite em que Chalamet & Cª chegaram com oito nomeações e partiram sem qualquer estatueta dourada.

2. Assim se reaviva o estranho paradoxo que faz com que a Academia, depois de ter alargado o número possível (até um máximo de dez) de títulos concorrentes ao Oscar principal, ao que parece para dar lugar a super-heróis e afins, continue a não dar grande atenção às produções Marvel e seus semelhantes, preferindo tudo o que exiba o rótulo de independente. Não há, por isso, qualquer ironia no discurso de agradecimento de Sean Baker, realizador de Anora: ele tem mesmo boas e consistentes razões para agradecer aos membros da Academia por terem distinguido "um filme verdadeiramente independente".

3. O mesmo se poderá dizer de O Brutalista, menos prendado — três Oscars, incluindo um segundo de melhor actor para o prodigioso Adrien Brody —, mas igualmente gerado nas margens dos estúdios clássicos de Hollywood.

4. O que, ironias à parte, não deixa de ser realmente sintomático — e muito motivador de reflexão, em particular para alguns distribuidores/exibidores de alguns pequenos países deste lado do Atlântico. Até porque, por vezes, parecem continuar a acreditar que haverá sempre uma sequela com chancela da Marvel que irá aparecer numa manhã de nevoeiro cinéfilo, consumando o milagre de corrigir a cegueira comercial de estratégias seguidas ao longo de décadas sem tentar compreender minimamente as convulsões dos mercados, das sociedades... e do próprio cinema!

5. Sean Baker tem, por isso, ainda mais razão quando, ao agradecer o seu Oscar de melhor realização, celebrou, com exemplar pedagogia, a importância de não deixar morrer as salas e a riqueza cultural que elas continuam a representar — vale a pena ouvir as suas palavras, num dos melhores discursos do fim de tarde vivido no Dolby Theatre, significativamente escutado pelo muito atento (e concordante) Quentin Tarantino.