segunda-feira, setembro 12, 2022

Alain Tanner (1929 - 2022)

Nome central na dinâmica europeia das "novas vagas", figura nuclear da história do cinema da Suíça, o realizador Alain Tanner faleceu no dia 11 de setembro — contava 92 anos.
Poucos cineastas como Tanner souberam explorar de modo tão paradoxal o choque afectivo e simbólico de uma utopia obstinadamente romântica com as convulsões de um mundo de solidões cada vez mais incomunicáveis. O seu filme português, A Cidade Branca (1983), com Bruno Ganz e Teresa Madruga,
produzido por Paulo Branco, é a expressão directa e comovente desse choque, raro na Europa do seu tempo — como se o cinema contemplasse aí o fim irreversível de uma vocação popular (não medida pelos números do sucesso, mas de ligação às verdades mais íntimas dos povos) que Tanner, implicitamente, tão acarinhava.
Tudo isso começa nos primeiros tempos da vertente especificamente suíça do seu labor, incluindo títulos emblemáticos como A Salamandra (1971) ou Regresso de África (1973), desembocando numa espécie de profecia pudica sobre Jonas que Terá 25 Anos no Ano 2000 (1976), fábula infantil & adulta que foi também um dos filmes em que Tanner contou com a colaboração, como argumentista, do grande John Berger (1926-2017). Vale a pena lembrar que o filme anterior, O Centro do Mundo (1974), com um par de secreta magia — a italiana Olimpia Carlisi e o francês Philippe Léotard — existe como uma celebração ambígua da alegria e da morte do próprio romantismo.
Com ziguezagues por diversos países e modos de produção, Tanner faria mais um filme "lisboeta", também com Paulo Branco, nesse caso tendo como inspiração a escrita de Antonio Tabucchi: Requiem (1998), uma aventura entre realidade e sonho, contando com vários portugueses em papéis secundários (Zita Duarte, Canto e Castro, Márcia Breia, Raul Solnado, Lia Gama, Sérgio Godinho, etc.). A sua derradeira realização envolvia, provavelmente, um adeus racional: chama-se Paul S'en Va e tem data de 2004.

>>> Trailer de A Salamandra.


>>> Conversa com Alain Tanner no Festival de Locarno (2010), com moderação de Serge Toubiana.


>>> Obituário no site SWI.