Frank Herbert |
Dune é uma das mais ambiciosas super-produções dos últimos tempos: do romance de Frank Herbert ao filme de Denis Villeneuve, é toda uma ideia de juventude que persiste e se renova — este texto foi publicado no Diário de Notícias (16 outubro).
Chegou a versão cinematográfica de Dune, do norte-americano Frank Herbert (1920-1986), assinada pelo canadiano Denis Villeneuve. Reza a lenda — que, neste caso, coincide com a história verídica — que Herbert recebeu respostas negativas de quase duas dezenas de editores antes de conseguir publicar o seu livro, em 1965. Há qualquer coisa de desconcertante e irónico na memória dessas dificuldades, quanto mais não seja porque logo em 1966 o romance seria consagrado com o Prémio Hugo, da World Science Fiction Society, e o Prémio Nebula, atribuído pela associação de escritores de ficção científica dos EUA (distinção criada nesse mesmo ano).
Apesar das vendas moderadas da primeira edição, Dune rapidamente adquiriu a dimensão de fenómeno popular, transformando-se numa referência de culto para várias gerações de leitores, com perto de 20 milhões de cópias vendidas — no mercado português, está disponível uma tradução, Duna, de Jorge Candeias (Relógio D’Água, 2020).
Criando uma saga futurista que tem tanto de tragédia familiar como de parábola política, o visionário Herbert talvez não pudesse prever que o seu livro estivesse agora envolvido numa polémica cultural e económica que, em qualquer caso, é de raiz cinematográfica. Em especial nos meios cinematográficos dos EUA, está instalada uma intensa discussão motivada pelo lançamento simultâneo de Dune nas salas e no streaming.
Villeneuve foi um dos primeiros a protestar contra tal decisão, em novembro de 2020, quando a Warner Bros. anunciou que, nos EUA, as suas produções para 2021 estreariam ao mesmo tempo nos cinemas e na HBO Max. Em agosto, voltou a lembrar que não estava satisfeito com a decisão, já que o filme foi todo ele concebido como “um tributo à experiência do grande ecrã”; para ele, ver Dune num televisor é qualquer coisa como “conduzir um barco a motor numa banheira.” Ainda assim, acrescentou que os dirigentes da Warner ficaram muito satisfeitos com os resultados, acreditando que o estúdio não irá desistir da “Parte II” prevista desde o início do projecto [entretanto, já confirmada].