sábado, setembro 04, 2021

"The Walking Dead"
— o pesadelo colectivo (1/3)

The Walking Dead [rodagem]

Começou como a adaptação de uma banda desenhada e transformou-se num fenómeno global: a série televisiva The Walking Dead resistiu mais de uma década: a 11ª temporada chegou a Portugal no dia 23 — este texto foi publicado no Diário de Notícias (14 agosto), mantendo-se aqui a referência ao dia 23 como uma data "posterior".

Em junho de 2014, poucas semanas depois da conclusão da quarta temporada de The Walking Dead, durante um debate organizado pela Producers Guild of America, David Alpert, um dos produtores executivos da série, surpreendeu tudo e todos quando deixou uma previsão sobre o seu futuro. Segundo ele, a banda desenhada homónima sobre um mundo apocalíptico, povoado de zombies, constituía uma inspiração extraordinária, de tal modo que seria possível manter a série por muitas temporadas: “Mais especificamente, temos uma ideia muito precisa sobre o que vai ser a 10ª temporada”. E acrescentou: “Temos linhas de referência para as 11ª e 12ª temporadas…”
Pois bem, é tempo de reconhecer que Alpert não estava a exagerar: a 11ª temporada está mesmo a chegar, com um atraso de quase um ano em relação ao calendário inicial devido à conjuntura pandémica. O primeiro episódio poderá ser visto no próximo dia 22, nos EUA; em Portugal, o canal Fox anuncia-o para o dia seguinte, 23, com duas passagens: às 02h30 e às 22h15.
Seja como for, não haverá 12ª temporada — desta vez, é mesmo para acabar… Serão 24 episódios, divididos em conjuntos de oito, com a primeira parte a terminar a 10 de outubro; as datas das duas partes restantes ainda não são conhecidas, embora tudo deva estar concluído ao longo de 2022. Angela Kang, actual produtora principal da série, responsável pelo argumento de mais de duas dezenas de episódios, mostrou-se optimista na apresentação no primeiro trailer da temporada final, em abril passado, recusando qualquer efeito de rotina: “A fasquia estará muito alta — vamos ver mais zombies, acção avassaladora, novas histórias intrigantes, cenários nunca utilizados e todos os nossos grupos vão estar pela primeira vez reunidos numa única comunidade, tentando reconstruir aquilo que os Whispereres lhes roubaram.”
Na verdade, algo de essencial mudou quando, na nona temporada (2018-19), a série introduziu a comunidade dos Whispereres (à letra: “aqueles que sussuram”; ou, num sentido tribal e religioso, “os encantadores”). Comandados por Alpha, a mulher de cabelo rapado interpretada por Samantha Morton, os Whispereres distinguem-se pela adopção de uma violência brutal em relação a todos os outros grupos, mas a sua identidade define-se a partir de uma componente única neste universo visceralmente trágico: mascaram os rostos com as peles que extraem dos corpos dos próprios zombies, numa duplicação perversa do seu comportamento errático — conseguem mesmo caminhar lado a lado com os zombies, sem serem atacados… Se os zombies são os “mortos que caminham” (Walking Dead), os Whisperers sobrevivem como “vivos que caminham”.