FRANCIS BACON Estudo para um retrato 1952 |
1. Onde está alguém, com responsabilidades políticas, desportivas e mediáticas, que venha dizer o óbvio sobre os adeptos do futebol? A saber: que há sectores desses adeptos que, movidos a álcool ou a ódio, se comportam de forma bárbara.
2. Será, por certo, uma minoria de adeptos, mas não é um problema quantitativo que está em causa. É, isso sim, uma questão genuinamente cultural, já que envolve a degradação dos mais básicos laços sociais, menosprezando a noção salutar de confronto desportivo, sobrepondo-lhe a estupidez de uma ininterrupta lógica de conflito.
3. Encerrar os adeptos em "bolhas" significa reduzir a questão fulcral da responsabilidade social a estratégias de policiamento. E quando as forças policiais são concebidas como único índice de ordem colectiva, isso quer dizer que os princípios sagrados do contrato social — entenda-se: a responsabilidade de cada um em relação aos outros — foram esvaziados.
_____PS - Não creio que a questão (cultural, insisto) que envolve a miséria futebolística possa ser encarada apenas através da mera avaliação dos actos de responsáveis policiais e políticos. Seja como for, registo que, já depois de escrita a nota em cima, pelo menos um dirigente político [Rui Rio] veio lembrar que há uma diferença importante entre "turismo" e "vandalismo".