segunda-feira, abril 12, 2021

Diana
— a princesa do povo televisivo [3/4]


Ao ganhar um Globo de Ouro pelo seu papel na série The Crown, Emma Corrin entrou na galeria de actrizes cuja carreira ficará para sempre marcada pela interpretação da Princesa Diana: a dimensão mítica da personagem envolve um desafio artístico e simbólico — este texto foi publicado no Diário de Notícias (6 março).

[ 1 ]  [ 2 ]

A 29 de julho de 1981, o casamento de Carlos, Príncipe de Gales e Lady Diana Spencer foi transmitido em directo para cerca de meia centena de países, tendo sido acompanhado por uma audiência global calculada em 750 milhões de espectadores (30 milhões no Reino Unido). Não admira que a apropriação da história de Diana, envolvendo a consolidação de uma imagem de recortes mitológicos, tenha sido, antes de tudo o mais, um fenómeno televisivo.
Logo em 1982, dois telefilmes americanos abordaram o casamento: Charles & Diana: A Royal Love Story (ABC) e The Royal Romance of Charles and Diana (CBS), com a personagem de Diana interpretada, respectivamente, por Caroline Bliss e Catherine Oxenberg. Nenhum deles ocupa um lugar destaque em qualquer história da televisão. E por uma razão muito básica: não passam de dramatizações vulgares, promovendo a noção pueril de que a agitação dos noticiários se confirma e, de alguma maneira, amplia na “dramatização” dos protagonistas e da sua intimidade.
Esta lógica foi acompanhando a evolução do casamento de Carlos e Diana, ecoando, “em paralelo”, as respectivas atribulações mais ou menos mediatizadas. O romantismo das origens deu lugar à purificação pela verdade. Assim, por exemplo, em 1993, cerca de um ano depois da separação do casal (o divórcio só seria oficializado em 1996), a NBC produzia um telefilme cujo título proclamava a necessidade de contar a “história verídica”: Diana: Her True Story tinha como protagonista Serena Scott Thomas (irmã mais nova de Kristin Scott Thomas).
Em 1994, a relação de Diana com James Hewitt surgiu tratada no livro Princess in Love, de Anna Pasternak. A sua adaptação daria origem, em 1996, a um telefilme homónimo (CBS) que terá tido a sua mais contundente apreciação crítica formulada pela própria protagonista, Julie Cox. Assim, em vésperas da primeira emissão do telefilme, declarou à revista People que nem sequer lera o livro: “Pensei que iria detestá-lo. Pensei que, se o lesse, iria ter muita dificuldade em encarar o argumento a sério.”