[ 2006 ] |
Ao ganhar um Globo de Ouro pelo seu papel na série The Crown, Emma Corrin entrou na galeria de actrizes cuja carreira ficará para sempre marcada pela interpretação da Princesa Diana: a dimensão mítica da personagem envolve um desafio artístico e simbólico — este texto foi publicado no Diário de Notícias (6 março).
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Mesmo não esquecendo que a memória de Diana envolve componentes trágicas e romanescas ainda relativamente próximas, é um facto que as personagens da realeza há muito funcionam como uma espécie de “suplemento” artístico. E, há que reconhecê-lo, com especial eficácia nas cerimónias de atribuição de prémios.
Aquele ou aquela que interpreta uma dessas personagens, rei ou rainha, príncipe ou princesa, parece surgir “engrandecido” pela respectiva dimensão mitológica. Lembremos o exemplo de um filme tão convencional como O Discurso do Rei (2010), de Tom Hooper: o academismo do empreendimento não o impediu de ganhar quatro Oscars, incluindo o de melhor actor (Colin Firth) e melhor filme do ano, numa corrida em que, vale a pena lembrar, estavam envolvidos títulos tão singulares como A Rede Social, de David Fincher, e A Origem, de Christopher Nolan.
[ 1939 ] |
Na arqueologia cinematográfica da Diana, será fundamental recordar A Rainha (2006), o filme de Stephen Frears sobre a conjuntura política, mediática e emocional vivida na sequência da morte de Diana. A esse propósito, quem se lembra de Laurence Burg?… É esse o nome de uma conselheira municipal de uma cidadezinha do nordeste francês que teve alguma notoriedade mediática como “sósia” daquela que a história consagrou como Princesa do Povo… Pois bem, Frears soube do facto e convidou-a para assumir a personagem de Diana no seu filme.
Como todos os espectadores de A Rainha se recordam, Diana era, afinal, uma personagem absolutamente secundária. Central pelas implicações familiares, políticas e simbólicas da sua morte, mas secundária no sentido em que tudo se passava em torno de Isabel II (a sua composição valeu um Oscar a Helen Mirren). Seja como for, há no filme de Frears um dado que, agora, somos levados a reconhecer como premonitório: o argumento tem assinatura de Peter Morgan, o criador, também argumentista, de The Crown.