De Justiceiro Solitário a Dívida de Sangue, passando por Bird e As Pontes de Madison County, Lennie Niehaus foi um colaborador fiel de Clint Eastwood: saxofonista e compositor, faleceu aos 90 anos de idade — este obituário foi publicado no Diário de Notícias (01 Junho).
Compositor de duas dezenas de bandas sonoras para filmes de Clint Eastwood, Lennie Niehaus faleceu no dia 28 de maio em Redlands, Califórnia, depois de um longo período de internamento hospitalar — contava 90 anos.
Talentoso saxofonista de jazz, arranjador e compositor, Niehaus teve uma carreira que está longe de se esgotar na filmografia de Eastwood (que completou 90 anos a 31 de maio), mas é um facto que esse é o capítulo central da sua obra. Conheceram-se na década de 1950, em Monterey, quando ambos cumpriam serviço militar. A paixão pelo jazz cimentou a sua amizade, criando uma ligação cuja concretização profissional começaria pelas orquestrações de dois títulos que Eastwood protagonizou em 1976, tendo também dirigido o primeiro: O Rebelde do Kansas e Harry, o Implacável (de James Fargo).
Niehaus estreou-se na autoria de uma banda sonora para Eastwood com Pale Rider/Justiceiro Solitário (1985), “western” muitas vezes citado como “antecipação” temática e estilística de Imperdoável (1992), cuja música também assinou. Entre trabalhos de orquestração e composição, a sua colaboração envolveu mais de duas dezenas de títulos. O nome de Niehaus surge também no genérico de Bird (1988), precisamente um filme sobre um dos génios do saxofone na história do jazz, Charlie Parker, e ainda, por exemplo, em Caçador Branco, Coração Negro (1990), Um Mundo Perfeito (1993), As Pontes de Madison County (1995), Space Cowboys (2000) e Blood Work/Dívida de Sangue (2002), derradeira colaboração com Eastwood.
Nascido em St. Louis, Missouri, a 11 de junho de 1929, Niehaus cresceu em ambiente profundamente ligado à música, sendo o pai um versátil violinista e a irmã pianista. Antes e depois do serviço militar, integrou a “big band” do pianista Stan Kenton. Na década de 60 começou a trabalhar como orquestrador de bandas sonoras do compositor Jerry Fielding, nomeadamente para três filmes realizados por Sam Peckinpah: Cães de Palha (1971), Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia (1974) e Assassinos de Elite (1975).
Para lá dos seus registos com a orquestra de Kenton, Niehaus produziu também uma importante discografia em nome próprio, ao comando de várias formações, com destaque para o quinteto que integrava Bill Perkins (clarinete), Frank Strazzeri (piano), Tom Warrington (contrabaixo) e Joe LaBarbera (bateria) — Patterns (1989) é habitualmente citado como um dos álbuns mais notáveis dessa formação. Em 2008, ganhou um Emmy pela banda sonora de Mitch Albom’s for One More Day, telefilme de Lloyd Kramer com Michael Imperioli e Ellen Burstyn.
>>> Big Fran's Baby (Um Mundo Perfeito, BSO) + Blood Work (Blood Work, BSO).
>>> Lennie Niehaus interpreta Stella by Starlight (Victor Young, 1944) no Instituto de Jazz de Los Angeles.
>>> Obituário em JazzTimes.