sexta-feira, abril 10, 2020

Luís Noronha da Costa (1942 - 2020)

[ FOTO: Global Imagens/JN ]
A sua obra pictórica faz dele um dos maiores criadores portugueses da segunda metade do século XX: Luís Noronha da Costa faleceu no dia 9 de Abril, no Hospital Egas Moniz, em Lisboa, após doença prolongada — contava 77 anos.
O arranque da sua pintura é indissociável, porque contemporâneo, da sua formação em arquitectura na Escola Superior de Belas Artes. No limite, pode mesmo dizer-se que a sua trajectória — das convulsões da água (na série 'Mares Portuguesas') até às muitas personagens romanescas em estado de perdição figurativa — se deixa resumir numa interrogação de natureza arquitectónica: como encontrar um espaço de expressão e sensualidade, algures entre a (des)ordem do mundo visível e a vocação transcendental da própria tela?
Certamente não por acaso, Noronha da Costa desenvolveu nos seus quadros uma pesquisa, de uma só vez formal e existencial, em que a presença de ecrãs, explícitos ou imaginados, constitui um decisivo factor de amostragem e ocultação, construção e desconstrução. Próximo de Jean-Luc Godard, que reconhecia como um dos seus mestres — tal como o inglês Terence Fisher, derradeiro romântico a servir-se das convenções do género de terror —, sempre se interessou pelo cinema, inclusive através da realização (lembremos O Construtor de Anjos, 1978). Em última instância, a fulgurante serenidade da sua obra nunca foi tão actual — Noronha da Costa pergunta-nos o que vemos, como vemos, como aprendemos a ver, como podemos reaparender a libertar o olhar.

1982 — Mar Português (da série 'Mares Portugueses')

1973 — S/Título

1971 - Composição

1964 — S/Título (Branco)

>>> Exposição de 2003 no CCB [reportagem de João Almeida / SIC, 01-12-2003].


>>> Obituário no Sapo24.
>>> A Representação das Imagens, livro de Bernardo Pinto de Almeida.