Espelhos e perversões da história. A canção pertence ao álbum homónimo de Bob Dylan, terceiro da sua discografia, lançado em 1964: The Times They Are A-Changin' é mais do que um símbolo forte, porventura inadvertido, das convulsões da década de 60; passou mesmo a existir como padrão metafísico das transformações da história colectiva — um hino intemporal, de facto, estatuto que poucas canções conseguem adquirir.
Mais recentemente, a canção surgiu na banda sonora da terceira temporada da série The Crown, produzida pela Netflix, enquadrando os sonhos e pesadelos das primeiras décadas do reinado de Isabel II (Olivia Colman). Está em boa companhia, ao lado de Just One of Those Things, por Frank Sinatra, I've Got Love if You Want It, de The Kinks, ou Starman, de David Bowie, sem esquecer o toque "beethoviano" da Sonata ao Luar — noblesse oblige.
O mais interessante é a reinvenção paradoxal, tecida de romantismo e negrume, de The Times They Are A-Changin', por Fort Nowhere, um dos nomes do catálogo da muito empreendedora My Hart Canyon Music, editora "especializada" em séries televisivas — eis a música e as palavras de Dylan, primeiro no trailer da temporada, depois na sua versão integral, pontuada com um magnífico falso fim por volta dos 04m30s.