domingo, julho 21, 2019

Thor, Natalie Portman e o novo feminismo

A igualdade entre os géneros está longe de ser um universo de linguagens uniforme ou unívoco. Dito de outro modo: a defesa intransigente dessa igualdade não implica que nos tornemos cegos, surdos e mudos face às estratégias de "igualização" que as ideologias e o marketing, por vezes em inusitadas alianças, vão produzindo.
Observe-se esta curiosa imagem de Natalie Portman na Comic Con de San Diego (precisamente um desses eventos de celebração de uma visão do espectáculo cinematográfico regido, apenas e só, pelos valores do marketing).
Com chancela das produções Marvel, Portman vai voltar a interpretar a personagem de Jane Foster, companheira de acção de Thor, desta vez pertencendo-lhe o poder do martelo (de Thor). Semelhante promoção não será estranha à inspiração enraizada na BD. Mas não é uma banal colecção de peripécias que está em jogo: há, de facto, um novo feminismo figurativo empenhado em promover a apropriação de símbolos masculinos pelas personagens femininas. Objectivo genuinamente ideológico: estabelecer algum modelo de coincidência (?) entre a igualdade de géneros e a igualdade dos símbolos de poder usados pelos géneros.
Assim se reduz a complexidade das relações homens/mulheres a um divertimento infantil organizado a partir de trocas de artefactos carregados de uma simbologia simplista — seríamos mais felizes trocando de martelos... Habitualmente, são as crianças que se divertem com esta circulação de máscaras; agora, em casos como este, os adultos (mulheres e homens) satisfazem-se com a possibilidade de se comportarem como crianças.