O tema da violência ao longo da história do cinema é pretexto para um ciclo no Espaço Nimas (até 29 Janeiro): de clássicos como Scarface, o Homem da Cicatriz ou O Silêncio dos Inocentes até raridades como Cães Danados — este texto foi publicado no Diário de Notícias (17 Janeiro).
Convenhamos que não será possível fazer uma história das formas de representação da violência em cinema através de oito filmes... Seja como for, o ciclo “Uma história da violência (no cinema)”, além de ser apresentado com um subtítulo prudente (“alguns exemplos”), possui a virtude de contrariar o consumo passivo, automático e “pipoqueiro”. E se é verdade que os ciclos temáticos estão a regressar a alguns sectores da exibição cinematográfica, tanto melhor!
Os filmes a passar no Espaço Nimas (sempre às 18h15) são suficientemente díspares para que evitemos qualquer generalização temática, descritiva ou interpretativa. O mais recente da selecção — O Capitão (2017), de Robert Schwentke — lembra-nos mesmo que não há uma definição absoluta, muito menos determinista, da violência: afinal de contas, Schwentke filma um soldado alemão que, no final da guerra, se transfigura (violentamente) porque começa a usar uma farda de... capitão.
Alguns títulos transportam o rótulo mítico de “clássicos”, até porque se inscreveram no imaginário popular como exercícios de confronto com as manifestações mais radicais, porventura mais irracionais, da violência. São eles: Massacre no Texas (1974), de Tobe Hooper, O Silêncio dos Inocentes (1991), de Jonathan Demme, e Cães Danados (1992), de Quentin Tarantino.
No centro do ciclo surge Saló ou os 120 Dias de Sodoma (1975), título final de Pier Paolo Pasolini, deslocando a obra do Marquês de Sade para o contexto da República de Salò, na zona controlada pelos fascistas nos anos finais da Segunda Guerra Mundial. Filme difícil de enfrentar e compreender (falo por mim, antes do mais), trata-se de um dos exemplos mais elaborados, e também mais perturbantes, da capacidade do cinema nos fazer sentir como o exercício do poder envolve sempre alguma forma de hierarquização dos corpos — a sua herança política e pedagógica permanece essencial.
A produção mais antiga a apresentar é Scarface, o Homem da Cicatriz (1932), com Paul Muni sob a direcção de Howard Hawks, por certo um dos momentos mais emblemáticos na história dos gangsters em cinema. Há ainda Brincadeiras Perigosas (1997), de Michael Haneke, autor cuja obra é toda ela um conjunto de variações sobre o(s) desejo(s) de violência, sobrando o momento mais insólito: Cães de Palha (1971), de Sam Peckinpah.
Porquê insólito? Porque, infelizmente, o nome de Peckinpah quase foi rasurado da actualidade cinematográfica — nos canais de televisão, por exemplo, os seus filmes são presença rara. Encenando o sofrimento de um casal (Dustin Hoffman/Susan George) assediado por um bando de malfeitores na sua casa de campo, Cães de Palha talvez não seja um dos melhores filmes de Peckinpah. Não possui, pelo menos, o requinte formal de Os Pistoleiros da Noite (1962) ou A Quadrilha Selvagem (1969). Ainda assim, pode ser uma excelente via de entrada no universo de um dos autores que, ao longo das décadas de 60/70, mais longe levou a releitura crítica do imaginário (bélico) dos EUA — também ele merece um ciclo.
17 JAN
FUNNY GAMES / BRINCADEIRAS PERIGOSAS, Michael Haneke (1997)
18 JAN
RESERVOIR DOGS / CÃES DANADOS, Quentin Tarantino (1992)
21 JAN
DER HAUPTMAN / O CAPITÃO, Robert Schwentke (2017)
22 JAN
SALÓ OU OS 120 DIAS DE SODOMA, Pier Paolo Pasolini (1975)
24 JAN
SCARFACE, O HOMEM DA CICATRIZ, Howard Hawks (1932)
25 JAN
THE TEXAS CHAIN SAW MASSACRE / MASSACRE NO TEXAS, Tobe Hooper (1974)
28 JAN
STRAW DOGS / CÃES DE PALHA, Sam Peckinpah (1971)
29 JAN
THE SILENCE OF THE LAMBS / O SILÊNCIO DOS INOCENTES, Jonathan Demme (1991)
_____
NIMAS / Diariamente às 18h15 / Bilhetes: 6€ / Classificação: M/18