É um dos símbolos mais universais da música popular francesa: Charles Aznavour, cantor e compositor, faleceu no dia 1 de Outubro, em Mouriès, no sul de França — contava 94 anos.
Nascido em Paris, no seio de uma família de raízes arménias, afirmou-se como símbolo exemplar da chanson française, ao mesmo tempo assumindo vários cargos diplomáticos em representação da Arménia — era, desde 1995, embaixador e delegado permanente da Arménia junto da Unesco; no cinema, um dos seus papéis marcantes foi como protagonista do filme Ararat (2002), de Atom Egoyan, sob o genocídio do povo arménio, em 1915, pelas autoridades governamentais da Turquia. Em 1988, na sequência do terramoto que atingiu a Arménia, criou a fundação humanitária 'Aznavour pour l'Arménie'.
Senhor de uma voz de paradoxal contenção, conseguindo uma grande intensidade narrativa através de uma calculada delicadeza, deixou um legado de muitos temas populares, por vezes também através da sua recriação por outros intérpretes — entre eles, podemos citar, por exemplo, Tu t’laisses aller, Les comédiens, La Mamma, Et pourtant, Que c'est triste Venise, La Bohème ou Comme ils disent (este um tema histórico pelo modo como, em 1972, abordava sem preconceitos uma história de amor homossexual). Publicou 51 álbuns de originais, de Charles Aznavour chante... Charles Aznavour (1953) a Encores (2015). A sua discografia de originais, registos ao vivo e compilações (incluindo as edições internacionais, noutras línguas) ultrapassa as três centenas de álbuns.
No cinema, teve o seu primeiro grande papel num dos títulos fundadores da Nova Vaga francesa: Disparem sobre o Pianista (1960), de François Truffaut. Entre os seus filmes mais célebres, incluem-se O Tambor (1979), de Volker Schlöndorff, Os Fantasmas do Estrangulador (1982), de Claude Chabrol, e Viva la Vie (1984), de Claude Lelouch.
Entre as muitas condecorações que recebeu, inclui-se uma medalha da canção atribuída pela Académie Française. Em 1997, a academia francesa de cinema consagrou-o com um César de honra. Os 'Victoires', uma espécie de Oscars do mundo musical, distinguiram-no em 2010 com um prémio de carreira. Publicou vários livros, quase sempre envolvendo componentes autobiográficas, o último dos quais, Ma vie, mes chansons, mes films, em colaboração com Philippe Durant e Vincent Perrot, surgiu em 2015.
>>> 12 "canções inesquecíveis" — uma antologia do INA (Institut National de l'Audiovisuel).
>>> Obituário/memória no canal France24 (inglês).
>>> Um extracto de Disparem sobre o Pianista.
>>> Obituário: Le Monde + New York Times.
>>> Site oficial de Charles Aznavour.
>>> Página de Charles Aznavour na France Culture.