sábado, outubro 06, 2018

Camille Paglia: repensar o erotismo

Cammille Paglia tem um novo livro: Provocations (Penguin Random House) é uma antologia de textos publicados ao longo de 25 anos, em grande parte reflectindo sobre o universo feminino, o feminismo e, mais especificamente, os modos de representação das mulheres.
É sobre as imagens das mulheres, justamente — em especial no Instagram —, que se debruça o artigo que Paglia acaba de publicar em The Hollywood Reporter, na qualidade de colunista convidada. É um texto tanto mais interessante quanto envolve uma metódica resistência a muitas formas de "libertação" da figuração feminina que, em última instância, tendem a fazer equivaler essa "libertação" a uma exposição pueril de... nudez. Aliás, a autora lembra o exemplo mais estúpido (a palavra é minha) dessa ideologia figurativa, ou seja, o filme As Cinquenta Sombras de Grey: "um aborrecimento sem vida, clinicamente anti-séptico" (as palavras são dela).
Particularmente sugestivo é o paralelismo que propõe entre uma fotografia de Gloria Swanson, obtida por Edward Steichen em 1924, e uma imagem de Rihanna no seu Instagram, uma das poucas estrelas contemporâneas que, segundo Paglia, entende as dinâmicas subtis do erotismo — não se trata promover uma banal ostentação de pele (o que, entenda-se, não exclui o valor expressivo do nu), antes de encarar o sexo como "um cintilante estado de espírito" [imagens aqui em baixo].
Em tempos de continuadas reflexões sobre os sucessos e limites do movimento #MeToo, vale a pena ler este texto, também ele cintilante, sobre o "exibicionismo no Instagram".