segunda-feira, junho 04, 2018

"West Side Story" por Steven Spielberg?

[ 1961 ]
Steven Spielberg vai refazer West Side Story: será que podemos antecipar uma nova idade para o cinema musical? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (3 Junho), com o título 'Spielberg reinventa o musical'.

Refazer West Side Story em cinema? É verdade. A notícia já tem quase seis meses e, em boa verdade, para além do anúncio da abertura do casting, pouco se sabe sobre o projecto. A conjuntura histórica poderá favorecer uma associação mais ou menos nostálgica, já que este é o ano em que se assinala o centenário do nascimento do autor da música de West Side Story, Leonard Bernstein (nascido a 25 de Agosto de 1918). Seja como for, no cerne de todas as expectativas está o nome do realizador: Steven Spielberg.
Para o autor de Tubarão (1975), Os Salteadores da Arca Perdida (1981) e A Lista de Schindler (1993), o musical de Arthur Laurents, com partitura de Bernstein e letras de Stephen Sondheim, não será uma referência abstracta. Em 1957, quando West Side Story se estreou nos palcos da Broadway, Spielberg tinha 11 anos. Mais do que isso, para a sua geração, a admirável versão cinematográfica de 1961, assinada por Robert Wise e Jerome Robbins, acabou por se consolidar como um título mítico (consagrado com dez Oscars, incluindo o de melhor filme do ano).
Tony Kushner
Como é que Spielberg irá recriar West Side Story? Sabe-se que o casting para os quatro papéis principais — assumidos no filme original por Natalie Wood, George Chakiris, Rita Moreno e Richard Beymer — aposta na descoberta de novos talentos, sem nome feito no cinema. Sabe-se também que a adaptação terá assinatura de Tony Kushner, o dramaturgo de Anjos na América (lembremos a notável série a que deu origem, em 2003) que já trabalhou com Spielberg nos argumentos de Munique (2005) e Lincoln (2012). E espera-se que Spielberg nos ajude a relançar uma velha expectativa: será possível refazer o musical como um dos géneros nucleares da produção de Hollywood?
Convenhamos que o cepticismo domina. Temos assistido à “ocupação” de Hollywood por entidades como a Marvel, impondo um modelo (de produção e marketing) que secundariza quase tudo o que não envolva algum super-herói a destruir arranha-céus digitais... Mesmo um filme com chancela de Spielberg dificilmente conseguirá, por si só, reconverter tais opções industriais.
Repare-se no apagamento a que foi sujeito um filme como O Grande Showman, de Michael Gracey (agora disponível numa excelente edição em Blu-ray). A sua reinvenção do musical clássico, integrando formas narrativas vindas da área dos telediscos, não bastou para lhe conferir a evidência mediática que merecia. Nem mesmo o protagonismo do brilhante Hugh Jackman ajudou... E, no entanto, quase todos o reconhecem como Wolverine.

>>> Abertura de O Grande Showman.


>>> Alguns clássicos do musical [NYT].