[FOTO: Miguel A. Lopes] |
Pintor do visível e do pressentimento do invisível, é uma figura nuclear na história da modernidade portuguesa: Júlio Pomar faleceu no dia 22 de Maio, no Hospital da Luz, em Lisboa — contava 92 anos.
A afirmação criativa de Pomar é indissociável, no plano político, da resistência ao Estado Novo e, em termos artísticos, da sensibilidade neo-realista — O Almoço do Trolha (1949) será a obra mais emblemática desse período. Ao longo das décadas de 60/70, o progressivo distanciamento das lutas políticas e o tempo vivido em Paris terão como consequência uma certa "libertação" das linhas e das cores, aceitando influências abstractas ou surreais, mas sem perder o contacto com um obstinado desejo de figuração — observem-se exemplos tão contrastados e, afinal, tão cúmplices nessa evolução como Entrada de Touros (1963), O Banho Turco (1971) ou Le Luxe (1979).
Significativo é o facto deste processo evolutivo conduzir Pomar a uma abordagem, tão sistemática quanto obsessiva, das figuras de alguns animais, com obrigatório destaque para a sua impressionante série de tigres. Os seus azulejos para a estação de Metro de Alto dos Moinhos, em Lisboa — integrando, em particular, as figuras de Luís de Camões e Fernando Pessoa —, decorrem de uma visão de dessacralização do próprio objecto artístico, expondo-se no lugar comum dos cidadãos, mas não rasurando os traços míticos da própria comunidade. Dir-se-ia que o Portugal pintado por Pomar é órfão da sua própria energia utópica. O Atelier-Museu Júlio Pomar, inaugurado em 2013, nasceu também como corolário institucional daquela visão, "procurando semear a liberdade do olhar, a postura crítica e a abertura que caracteriza o autor que lhe dá nome."
>>> Obituário no Observador.
>>> Site do Atelier-Museu Júlio Pomar.
>>> Júlio Pomar no blog de Alexandre Pomar.
>>> Júlio Pomar no Museu Calouste Gulbenkian.
>>> Entrevista a Júlio Pomar, por Aurélio Gomes ['Baseado numa História Verídica', Canal Q, 2011]
A afirmação criativa de Pomar é indissociável, no plano político, da resistência ao Estado Novo e, em termos artísticos, da sensibilidade neo-realista — O Almoço do Trolha (1949) será a obra mais emblemática desse período. Ao longo das décadas de 60/70, o progressivo distanciamento das lutas políticas e o tempo vivido em Paris terão como consequência uma certa "libertação" das linhas e das cores, aceitando influências abstractas ou surreais, mas sem perder o contacto com um obstinado desejo de figuração — observem-se exemplos tão contrastados e, afinal, tão cúmplices nessa evolução como Entrada de Touros (1963), O Banho Turco (1971) ou Le Luxe (1979).
Significativo é o facto deste processo evolutivo conduzir Pomar a uma abordagem, tão sistemática quanto obsessiva, das figuras de alguns animais, com obrigatório destaque para a sua impressionante série de tigres. Os seus azulejos para a estação de Metro de Alto dos Moinhos, em Lisboa — integrando, em particular, as figuras de Luís de Camões e Fernando Pessoa —, decorrem de uma visão de dessacralização do próprio objecto artístico, expondo-se no lugar comum dos cidadãos, mas não rasurando os traços míticos da própria comunidade. Dir-se-ia que o Portugal pintado por Pomar é órfão da sua própria energia utópica. O Atelier-Museu Júlio Pomar, inaugurado em 2013, nasceu também como corolário institucional daquela visão, "procurando semear a liberdade do olhar, a postura crítica e a abertura que caracteriza o autor que lhe dá nome."
O ALMOÇO DO TROLHA (1949) |
O BANHO TURCO (1971) |
L' ÉTONNEMENT (1979) |
>>> Obituário no Observador.
>>> Site do Atelier-Museu Júlio Pomar.
>>> Júlio Pomar no blog de Alexandre Pomar.
>>> Júlio Pomar no Museu Calouste Gulbenkian.
>>> Entrevista a Júlio Pomar, por Aurélio Gomes ['Baseado numa História Verídica', Canal Q, 2011]