Porque é que Lars von Trier atrai, de imediato, o rótulo de "provocador"? E porque é que o horror do Big Brother televisivo nunca é classificado de tal modo? Eis algumas das perguntas que vale a pena (re)lançar a propósito de The House that Jack Built, o novo título de von Trier apresentado em Cannes (extra-competição). Digamos, para simplificar, que ao fazer o retrato de Jack (um regressado Matt Dillon) o cineasta dinamarquês retoma os temas obsessivos da omnipresença do mal e da impossibilidade de redenção. Em permanente diálogo com Verge (Bruno Ganz), Jack partilha connosco as agruras de uma reflexão em que já não há nenhuma natureza purificadora capaz de lavar os nossos pecados. O resultado, fascinante, consegue ser brutal e poético como uma pintura de Hieronymus Bosch — ou também já arrumaram Bosch no armários dos "provocadores"?