Contra a facilidade das modas, Wim Wenders conta uma história de amor — este texto foi publicado no Diário de Notícias (24 Maio), com o título 'Romantismo em tempo de globalização'.
O que é, afinal, a globalização? No filme Submersos, do alemão Wim Wenders, encontramos Danielle, uma biomatemática a investigar o fundo do mar na região da Gronelândia, ansiando por saber notícias de James, um engenheiro hidráulico a trabalhar em projectos humanitários, na verdade ao serviço dos serviços secretos britânicos, preso por jihadistas, algures na costa leste de África — a sua ligação amorosa começou num encontro acidental, em cenários paradisíacos, num hotel em França. Ela é interpretada pela sueca Alicia Vikander, ele pelo escocês James McAvoy.
A globalização não é exactamente a noção pueril segundo a qual tudo comunica com tudo. Será antes a sensação de que tudo acontece em simultâneo, desafiando os limites de qualquer identidade individual. É essa perturbação que Wenders encena em Submersos, de alguma maneira recuperando a vibração emocional e a inquietação política do seu Até ao Fim do Mundo (1991), curiosamente um filme com uma cena rodada em Portugal, num espaço que já não existe (o Teatro-Cine Eden, na Praça dos Restauradores, em Lisboa).
Vikander e McAvoy, brilhantes como raras vezes têm sido, surgem, assim, como um par amoroso a viver uma relação ameaçada pelas convulsões da história colectiva. Não por acaso, Wenders filma-os no seu encontro, em França, como incautos figurantes de deslumbrantes paisagens naturais — eles são, afinal, mensageiros de um cinema que, contra todas as modas, não desistiu do romantismo.