Alden Ehrenreich é o novo herói de Star Wars — este texto foi publicado no Diário de Notícias (24 Maio), com o título 'Alden Ehrenreich à procura da herança de Harrison Ford'.
Alden Ehrenreich, americano, nascido em Los Angeles há 28 anos, vai poder entrar na galeria dos rostos universais de Hollywood graças ao seu protagonismo no filme Han Solo: Uma História de Star Wars. Compreende-se porquê: afinal, ele surge como herdeiro directo de Harrison Ford, o actor que começou por interpretar o aventureiro galáctico Han Solo, a partir de 1977, quando George Lucas lançou, com impressionante sucesso, o universo de A Guerra das Estrelas.
Eis uma prova muito real do triunfo mediático das grandes produções sobre os filmes que, realmente, nascem de uma visão original do mundo e, em particular, do trabalho cinematográfico. De facto, Ehrenreich tem já uma filmografia de respeito: estreou-se sob a direcção de Francis Ford Coppola, em Tetro (2009), tendo também participado no admirável Rules Don’t Apply (2016), de e com Warren Beatty, sobre os anos finais do milionário Howard Hughes (1905-1976); neste caso, o filme nem sequer chegou às salas portuguesas, tendo apenas passado, de modo ultra-discreto, no cabo, com o título Excepção à Regra.
Em boa verdade, há muito que o universo Star Wars deixou de ser administrado como um conceito de aventura, dando lugar a uma máquina bem oleada de marketing. Ehrenreich não deixa de ser um talentoso actor, assumindo com serena contenção a herança de Harrison Ford. O certo é que estamos perante mais um capítulo da lógica de gestão dos estúdios Disney, desde que assumiram o controle do património da Lucasfilms — na prática, trata-se de garantir o lançamento de um título por ano. Em 2015, surgiu O Despertar da Força, episódio VII da saga original; no ano seguinte, foi a vez de Rogue One, a primeira “derivação”; no final do ano passado, estreou-se Os Últimos Jedi, episódio VIII. Agora, Han Solo: Uma História de Star Wars propõe mais uma variação, centrando-se na juventude do herói, estando agendado para Dezembro de 2019 o lançamento do episódio XIX, ainda sem título.
Convenhamos que não há muito a esperar de um empreendimento deste teor. As suas motivações principais já pouco envolvem de genuíno gosto cinematográfico, contrariando, aliás, a lógica inicial de Lucas (goste-se mais ou goste-se menos, ele foi um genuíno inovador na concepção da aventura e na aplicação das potencialidades da tecnologia). Daí que, apesar de tudo, não possamos deixar de saudar a competência tradicional que encontramos em Han Solo: Uma História de Star Wars.
Mérito de Ron Howard, sem dúvida, realizador veterano (oscarizado em 2002, por Uma Mente Brilhante) que consegue resistir à facilidade de entregar a gestão da narrativa às arbitrariedades das equipas de efeitos especiais. Há, pelo menos, algumas cenas em que as personagens não estão perdidas nos cenários digitais, dando hipótese aos actores de trabalharem um pouco, criando algumas linhas dramáticas de tensão. Perante a mediocridade de tantos filmes “juvenis”, saudemos alguém que não se esqueceu do que é o cinema.