A americana Annie Clark é um dos mais belos enigmas da pop contemporânea. Enfim, por alguma razão ela adoptou o nome artístico de St. Vincent, avisando-nos que por tudo o que faz perpassa uma assumida teatralidade. De tal modo que, ao quinto álbum de originais, Masseduction, somos tentados a descrever as suas luminosas propostas através de um inusitado cruzamento: por um lado, nunca a sua sonoridade terá sido tão genuinamente pop, integrando influências que oscilam entre Jimi Hendrix e os Talking Heads (recorde-se que, em 2012, gravou o álbum Love This Giant com David Byrne); por outro lado, a sua versatilidade poética, associada à misteriosa transparência da sua voz, vai-lhe emprestando a dimensão de uma cantora lírica que, felizmente para nós, nasceu na época errada. Assim é Masseduction, uma colecção de treze pérolas musicais, entre a crueza do comentário social e a vibração do mais delicado intimismo. Ei-la, na rádio pública WFUV (Nova Iorque), a interpretar Slow Disco, por certo uma das grandes canções de 2017 — Slip my hand from your hand / Leave you dancin' with a ghost.