O venezuelano Alejandro Ghersi, que assina como Arca, já tinha colaborado na produção de álbuns de Kanye West, FKA Twigs ou Frank Ocean; em 2017, foi especialmente notado o seu envolvimento no magnífico Utopia, de Björk (com quem, aliás, trabalhara em Vulnicura, em 2015). Tudo isso contribuiu, e ainda bem, para que o seu terceiro álbum em nome próprio — intitulado apenas Arca, depois de Xen (2014) e Mutant (2015) — conquistasse a visibilidade que muito merece. Para além da singularidade das suas texturas electrónicas, Ghersi decidiu cantar na língua-mãe (por sugestão de Björk), de alguma maneira reforçando a carnalidade dos seus sons, sempre entre a confissão intimista e o artifício teatral. No limite, é a unidade utópica do corpo que está em jogo — como se prova pelo teledisco de Reverie, concebido por Ghersi e Jesse Kanda.