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E se o formato Super 8 estivesse de regresso, não apenas para o consumidor comum, mas de regresso à própria indústria cinematográfica? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (3 Setembro), com o título 'Quem se lembra dos filmes Super 8?'.
Lembram-se de Super 8 (2011), uma produção de Steven Spielberg realizada por J. J. Abrams? Um grupo de adolescentes vivia uma aventura “transcendental” cujo segredo estava inscrito num pequeno filme. Pequeno em todos os sentidos: filmado em película Super 8, precisamente, era um exemplo de um formato caído em desuso e, de forma simplista, muitas vezes associado a um conceito amador de cinema.
O certo é que desde Andy Warhol (que, em meados da década de 60, filmou, por exemplo, os Velvet Underground em Super 8) a cineastas portugueses contemporâneos como Edgar Pêra ou Rodrigo Areias, o Super 8 nunca desapareceu da paisagem cinematográfica. Actualmente, está mesmo a atravessar uma fase de renascimento para além de qualquer nostalgia pitoresca — isto porque a tal processo surge associada a Kodak, marca central na história técnica e prática do Super 8.
Em boa verdade, a fabricação de película Super 8 nunca foi abandonada pela companhia sediada em Rochester. Mas em Janeiro de 2016 surgiu uma notícia muito especial: a Kodak decidira voltar a fabricar câmaras Super 8. E está a cumprir o seu calendário: em finais do ano corrente deverá chegar ao mercado a primeira edição limitada, a um preço unitário de cerca de 2100 euros (prevendo-se que a edição corrente venha a custar 1700 euros).
Mesmo de um ponto de vista estritamente técnico (se é que, por momentos, podemos abstrair da dimensão cultural de qualquer transformação técnica), este regresso do Super 8 está longe de ser uma banal curiosidade. E não pode deixar de ser visto no interior de toda uma revalorização da película, assumida por cineastas como o já citado Spielberg, Martin Scorsese ou Christopher Nolan (que rodou o seu Dunkirk em película de 70mm).
O que está em jogo, entenda-se, não é a recusa dos formatos digitais e o seu sofisticado desenvolvimento. O que importa preservar é, em última instância, uma pluralidade de recursos que, além do mais, envolve um século de história do cinema. Do mesmo modo que não é possível conhecer a história da música gravada sem ter em conta os discos de vinyl (também eles objecto de um sintomático renascimento), importa também não esquecer as singularidades das imagens cinematográficas — e compreender, por exemplo, que a exuberância do Technicolor em O Feiticeiro de Oz (Victor Fleming, 1939) ou o negrume das ruas de Nova Iorque em Taxi Driver (Scorsese, 1976) são acontecimentos de um tempo pré-digital. Afinal, as pequenas bobinas de Super 8 podem ter uma grande história para contar.
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