Steven Soderbergh está de volta com um filme que celebra a pura alegria do espectáculo, relançando o seu gosto da independência — este texto foi publicado no Diário de Notícias (7 Setembro), com o tíyulo 'Soderbergh celebra as aventuras dos "maus da fita"'.
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Descobrir um filme como Sorte à Logan é uma festa (enfim, descontando o título português...). Apetece dizer que Steven Soderbergh possui a audácia necessária e suficiente para merecer a sorte que tem. Quando surgiu no Festival de Cannes, em 1989, contava 26 anos, ninguém sabia de onde vinha aquele independente “made in USA” — o certo é que trazia um cartão de visita com um título de muitas ressonâncias simbólicas, Sexo, Mentiras e Vídeo, e... arrebatou a Palma de Ouro.
Depois, já o vimos a dirigir coisas magníficas como Erin Brockovich (2000), Traffic (2000) ou O Bom Alemão (2006) e o certo é que, mesmo quando teve à sua disposição orçamentos consideráveis (Ocean’s Eleven custou 85 milhões de dólares), continuámos a encará-lo como símbolo exemplar da mesma independência. Porquê? Porque a sua estratégia não consiste em demonizar os grandes estúdios, mas em trabalhar para que o seu sistema acolha a diversidade criativa que ele próprio personifica como poucos.
O caso de Sorte à Logan é duplamente exemplar: primeiro, porque não é todos os dias que descobrimos um cineasta com tão sofisticado talento narrativo a fazer um filme com verdadeiras personagens, sustentadas por talentosos actores, sem depender de confusões visuais fabricadas por departamentos de efeitos especiais; depois, porque, desta vez, Soderbergh apostou em distribuir o seu filme no mercado americano também de forma independente (tendo mesmo criado uma empresa, Fingerprint Releasing, para tal fim). Do ponto de vista financeiro, os resultados são, para já, interessantes, sem serem espectaculares. Seja como for, o gesto de Soderbergh envolve um desafio que, sendo comercial, é também visceralmente artístico: Hollywood pode não ser um rótulo, mas sim um modelo de criatividade.