Vale a pena conhecer a simplicidade radical deste video do New York Times sobre os efeitos do furacão Harvey no Texas — realizado e montado por Deborah Acosta, nele acompanhamos apenas a reentrada de uma família em sua casa, nos arredores de Houston, avaliando os estragos provocados pela água.
É um testemunho jornalístico que dispensa qualquer simbolismo compulsivo, desse modo recusando a "espectacularizão" gratuita com que todos os dias deparamos no pequeno ecrã (sendo a tragédia do Harvey um mero exemplo de tal prática). A televisão impôs uma prática formatada da voz off que, em muitos casos, nos desliga da própria realidade que, supostamente, nos está a ser apresentada. Não que a voz off não possa ser um peculiar recurso das mais diversas narrativas (e escusado será lembrar que, de Hitchcock a Godard, a história do cinema está recheada de exemplos fascinantes). Acontece que, como o demonstra o austero trabalho de Acosta, é possível olhar — e registar — o mundo à sua volta sem lhe sobrepor um qualquer discurso determinista e moralista. Importa, enfim, revalorizar a dimensão mais pudica do exercício do olhar.