I. Esta notícia é do dia 16 de Junho, por acaso do jornal Record. E digo "por acaso" num sentido estritamente estatístico: por todo o mundo (e estamos a falar de uma dimensão, de facto, mundial) a notícia correu como coisa consumada — Cristiano Ronaldo tinha dito, claramente dito, que não voltava a Madrid nem ao Real Madrid.
II. Um mês depois, os mesmos meios de comunicação que tinham dado a dramática notícias, celebravam outra — veja-se a euforia pueril da Marca. Ou seja: Ronaldo vai continuar a ser jogador do Real Madrid!
III. Como? Importa-se de repetir...
IV. Infelizmente, o próprio espaço jornalístico recalca a discussão destas tão particulares dinâmicas mediáticas.
V. Poderá dizer-se que, quando surgiu a primeira notícia, havia razões consistentes para a divulgar. Talvez — mas não é isso que está em causa. O que está em causa é que os mesmos modelos de (des)informação que são capazes de trucidar na praça pública um político por causa de uma qualquer pormenor contraditório nas suas palavras, mostram uma sistemática indiferença pelas contradições discursivas dos jogadores de futebol — como se nem sequer fosse legítimo identificar as componentes anedóticas daquilo que dizem. Eis a narrativa mitológica: Ronaldo era um herói porque ia sair, continua a ser um herói porque vai ficar.