Repare-se no extraordinário cartaz de Happy End, de Michael Haneke. Que nos dizem o cronómetro, em cima, e os símbolos circulares, em baixo? Que se trata de uma imagem de um telemóvel... Sim, mas importa sermos mais precisos: dizem-nos também que há um olhar por detrás desta imagem — e que esse olhar remete para um corpo e uma história. Esquematicamente, digamos que se trata de uma rede de personagens de uma burguesia de imagem cínica, clean e europeia, que vive cada vez mais assombrada pela degradação interior dos seus padrões de vida. Mais exactamente: pelo insidioso triunfo de uma cultura da morte, tecida de solidão e indiferença, capaz de contaminar novos e velhos. Aconteça o que acontecer, este é um dos momentos maiores da 70ª edição do Festival de Cannes — e pode valer a Haneke o recorde de uma terceira Palma de Ouro.
[ SOUND + VISION / METROPOLIS ]