quinta-feira, abril 13, 2017

Michael Ballhaus (1935 - 2017)

FOTO: American Society of Cinematographers
A sua visão formal, indissociável de uma apurada sensibilidade à pluralidade humana, deixou marcas indeléveis em filmes de Rainer Werner Fassbinder, Martin Scorsese e muitos outros: o director de fotografia alemão Michael Ballhaus faleceu no dia 12 de Abril, em Berlim — contava 81 anos.
Os mais de 100 títulos fotografados por Ballhaus (cinema e televisão, curtas e longas) definem uma das mais espantosas obras visuais das últimas décadas e, em boa verdade, de toda a história do cinema. Mesmo reduzindo uma escolha "simbólica" a três títulos emblemáticos da sua carreira, lembremos imagens de:

* AS LÁGRIMAS AMARGAS DE PETRA VON KANT (1972)
de Rainer Werner Fassbinderg
* DRÁCULA DE BRAM STOKER (1992)
de Francis Ford Coppola
* A IDADE DA INOCÊNCIA (1993)
de Martin Scorsese

Sabendo adequar a sua direcção fotográfica à dinâmica dramática de cada filme, Ballhaus foi um mestre absoluto na composição de luzes e tratamento de cores susceptíveis de intensificar a carnalidade dos elementos visualisados. Nascido em ambiente artístico — o pai e a mãe, Oskar Ballhaus e Lena Hutter, eram actores —, conviveu com Max Ophüls (1902-1957), tendo mesmo feito um pequeno papel de figurante no seu derradeiro filme, Lola Montès (1955) — e não será abusivo considerar que a vibração cromática das suas imagens para títulos como O Casamento de Maria Braun (Fassbinder, 1979), Algemas de Cristal (Paul Newman, 1987) ou Gangs de Nova Iorque (Scorsese, 2002) se veio a inscrever na mesma árvore genealógica a que pertence a direcção fotográfica do francês Christian Matras (1903-1977) no filme de Ophüls.
* LOLA MONTÈS (1955)
de Max Ophüls
* GANGS DE NOVA IORQUE (2002)
de Martin Scorsese
Um dos seus trabalhos de mais sofisticada e incrível perfeição está em Os Fabulosos Irmãos Baker (1989), escrito e dirigido por Steve Kloves — repare-se na depurada sensualidade de todos os elementos que definem a ambiência da célebre sequência em que Michelle Pfeiffer, com Jeff Bridges ao piano, canta Makin' Whoopee .


Os Fabulosos Irmãos Baker valeu a Ballhaus uma das suas três nomeações para o Oscar de melhor fotografia, dois anos depois de Edição Especial (1987), de James L. Brooks; voltaria a ser nomeado com Gangs de Nova Iorque, mas nunca ganhou. A American Society of Cinematographers homenageou-o em 2007 com um prémio de carreira, tendo recebido em 2016 um Urso de Ouro honorário do Festival de Berlim.
A sua versatilidade permitiu-lhe colaborar com cineastas das mais diversas sensibilidades, de James Foley a Mike Nichols, passando por Robert Redford, Frank Oz ou Barry Levinson. Sem esquecer que, de Nova Iorque Fora de Horas (1985) a The Departed - Entre Inimigos (2006), fotografou sete filmes de Scorsese. Experimentou também a área da música, assinando a direcção fotográfica de dois telediscos de Madonna: Papa Don't Preach e True Blue, ambos de 1986, ambos dirigidos por James Foley.
* Scorsese + Ballhaus
— rodagem de THE DEPARTED (2006)

>>> Três exemplos do trabalho fotográfico de Michael Ballhaus:
— Trailer americano da cópia restaurada, em 2010, de O Mundo no Arame (1973), de Rainer Werner Fassbinder;
True Blue (1986), teledisco de Madonna dirigido por James Foley;
— Trailer de A Lenda de Bagger Vance (2000), de Robert Redford.






>>> Obituário: The Washington Post + Variety.
>>> Entrevista com Michael Ballhaus [Goethe Institut].
>>> 'Um director de fotografia alemão em Hollywood' [The German Way & More].