Ilustração de Victor Juhasz [Rolling Stone] |
Com a surreal expressão "factos alternativos", Kellyanne Conway não se limitou a fornecer uma síntese crua e cruel da lógica (des)informativa da equipa de Donald Trump; conseguiu abrir também um campo de reflexão e pensamento essencial nos dias difíceis que vivemos — trata-se, afinal, de saber como é que a noção de facto está social e moralmente abalada, a ponto de desqualificar a vontade de conhecer e respeitar a verdade, transparente ou enigmática, inerente a cada evento humano.
Na revista Rolling Stone, Matt Taibbi lembra mesmo que, num país historicamente marcado pelos prós e contras dos valores mercantis, as palavras de Conway abalaram terreno (ainda) sagrado para os cidadãos americanos:
>>> A verdade é, aqui, a última coisa que não está abertamente à venda. É por isso que tantas pessoas responderam a Conway não como se ela tivesse dito algo de estúpido — os nossos políticos habituaram-nos a isso —, mas mais como se ela tivesse dito algo de anti-religioso.
O artigo de Taibbi propõe um balanço desta tragédia moral, apresentando um título perturbante e esclarecedor: 'O fim dos factos na era Trump'.