[Esquire] |
A revista Esquire já tinha chamado a atenção para o facto, aliás elucidado por esclarecedoras imagens: Donald Trump tende a usar as suas gravatas, não apenas bizarramente longas, mas também colando a ponta traseira ao interior do tecido...
Ao contrário do que pretendem os "naturalistas" do comportamento humano, a questão está longe de se reduzir a padrões de "moda" colectiva ou "gosto" individual. Os códigos de guarda-roupa são matéria fulcral de qualquer época, mesmo (ou sobretudo) quando podem ser interpretados como emanação "natural" das regras de apresentação e relação social.
No New York Times, Richard Thompson Ford, professor da Stanford Law School e analista do comportamento humano (trabalha actualmente num livro sobre códigos de vestuário), assina um notável artigo sobre a imagem pública de Trump, tomando como ponto de partida, precisamente, as suas gravatas. Não se trata, entenda-se, de uma colagem de anedotas, antes de uma reflexão sobre o modo como a personagem se tece a partir de um (des)entendimento dos códigos que convoca, nessa medida reflectindo as suas dificuldades em lidar com padrões de "auto-disciplina, competência e integridade".
Sabemos agora, além do mais, que o homem mais poderoso do mundo usa fita adesiva nas suas gravatas, justificando o paradoxo que Ford aplica no título do seu texto: em vez de 'The ties that bind' (à letra: "Os laços que unem"), chamou-lhe 'The ties that blind' (tirando partido do sentido dúplice da palavra tie e passando de bind para blind: "As gravatas que cegam") — ou como o grande jornalismo nos ajuda a olhar o mundo à nossa volta.