quinta-feira, dezembro 22, 2016
Os 10 melhores álbuns pop/rock de 2016 (N.G.)
Há uma sensação estranha no momento de fazer as contas a 2016. É que, quando se chega a esta época do ano (e quem gosta de listas sabe disso), é habitualmente da soma de boas memórias que vive o balanço que vamos construindo. Pois a aritmética de 2016 sugere mais a subtração do que a adição. E o adeus a três referências maiores da cultura popular, e falo de David Bowie, de Prince, de Leonard Cohen, acaba por ser peça que quase mais pesa do que as contribuições que, em várias frentes da invenção musical, nos chegaram aos ouvidos ao longo do ano.
Todos eles, curiosamente, tiveram novos discos este ano (o de Prince na verdade tinha já surgido em formato digital, mas apenas num serviço, pelo que foi este ano que se fez ouvir melhor). Dois deles sugeriam já programas de despedida anunciada. Mas num deles não demos por nada até que, dois dias depois do lançamento do disco, a notícia que assombrou o mundo nessa manhã de 10 de janeiro nos deixou saber afinal do que falava David Bowie em Blackstar... E é talvez por aí que devemos começar a recordar o que de melhor temos a recordar dos discos que 2016 colocou na história destes 12 meses de edições...
Desta vez foi diferente, sem a surpresa a acordar-nos na manhã do seu aniversário. O dia do mês era o mesmo: 8 de janeiro. Mas ao contrário do que havia acontecido em 2013, quando o mundo despertou nessa manhã descobrindo que, após dez anos de silêncio, havia uma nova canção de David Bowie e que um álbum novo chegaria e março (gravado durante dois anos em Nova Iorque, em plena era do microblogging e sem que ninguém desse por isso), era chegado um novo disco do qual começámos a juntar peças aos poucos e que revelava aquele que era o seu álbum mais inventivo desde os tempos em que a cidade de Berlim vivia associada aos seus discos (se bem que só Heroes lá tenha nascido por inteiro). Mas mal imaginávamos, quando o estávamos a escutar pela primeira vez, o que na verdade ele guardava em si… Já tínhamos escutado sinais de reencontro de Bowie com o jazz nos dois temas do single que tinha editado em 2014, gravado com a orquestra de Maria Schneider. Depois, em finais de 2015, os temas Blackstar e Lazarus tinham lançados sinais encorajadores de que um Bowie mais negro, mas também mais inspirado, estaria a definir os contornos de um grande disco. Foi de facto um grande disco. Mas também uma carta de despedida, como poucas vezes um artista sabe deixar para quem ficar para a ler... Ou ouvir. Curiosamente outro disco maior de 2016 falava também de morte. Mas neste caso tratava-se da lamentação de um pai pela perda de um filho, fazendo de Skeleton Tree um dos melhores momentos da obra de Nick Cave com os Bad Seeds. A lista dos dez álbuns pop/rock (e periferias) do ano inclui ainda, em destaque, a proposta de uma nova canção eletrónica, angulosa e política, de Anohni, a visão de uma compositora (Anna Meredith) que derruba barreiras entre a música orquestral e a eletrónica e ainda o registo ao vivo do espetáculo que Kate Bush levou a palco em 2014 e que é dos raros álbuns live que justificam os euros que por ele nos pedirem. Na segunda metade do top 10 há mais um exemplo de excelência pop pelos Pet Shop Boys, um regresso de Paul Simon aos desafios sonoros e geográficos antes levantados em Graceland ou Rhythm of Saints, o reencontro (que já tardava) dos Avalanches com os discos, um segundo opus, mais sombrio, de C Duncan e ainda o disco que mostra como os Radiohead brilham quando arrumam bem as suas ideias.
1 David Bowie, “Blackstar”
2 Nick Cave and The Bad Seeds “Skeleton Tree”
3 Anohni “Hoplessness”
4 Anna Meredith “Varmints”
5 The K Fellowship (Kate Bush) “Before The Dawn”
6 Pet Shop Boys “Super”
7 Paul Simon “Stranger To Stranger”
8 The Avalanches “Wildflower” 9
C Duncan “The Midnight Sun”
10 Radiohead “A Moon Shaped Pool”